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Eduardo Cunha usa rádio gospel e busca o PL para tentar reaver base evangélica

0 ex-presidente da Câmara dos Deputados e deputado cassado Eduardo Cunha (PRD-SP) durante a posse da nova legislatura da Casa em fevereiro de 2023 — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

0 ex-presidente da Câmara dos Deputados e deputado cassado Eduardo Cunha (PRD-SP) durante a posse da nova legislatura da Casa em fevereiro de 2023 — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 02/07/2024 - 04:30

Reconquista da base evangélica: estratégia de Eduardo Cunha

Eduardo Cunha busca reconquistar base evangélica com rádio gospel e aliança política,alinhando-se a Bolsonaro e enfrentando críticas de lideranças religiosas. Dani Cunha apoia pré-candidatura de Ramagem e pressiona Republicanos a aderir à campanha. Aproximação visa prestígio entre fiéis e retaliação a Eduardo Paes.

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Com trajetória política impulsionada pelo voto evangélico no passado,o ex-presidente da Câmara dos Deputados,Eduardo Cunha,trabalha para retomar espaço no segmento. De olho na audiência dos fiéis,o ex-deputado anunciou no fim de semana o lançamento de uma nova rádio gospel,que terá espaço na programação para sua filha,a deputada federal Dani Cunha (União-RJ). Em outra frente,Cunha articula uma aliança com a pré-candidatura de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio,para se manter alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro,que continua influente entre as igrejas.

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Antes de comandar a Câmara,a carreira de Cunha foi alavancada por suas participações na Melodia FM,rádio evangélica de viés popular no estado do Rio. A rádio foi criada pelo ex-deputado Francisco Silva,que foi próximo a Cunha,e está hoje sob comando de seu filho,o deputado estadual Fábio Silva (União-RJ) — outro antigo aliado de Cunha,mas de quem o ex-deputado se afastou nos últimos anos.

Cunha aproveitou a comemoração do centenário da Assembleia de Deus no Rio,realizada no estádio do Maracanãzinho,no sábado,para anunciar o lançamento de uma nova emissora,a rádio Maravilha FM. Trata-se de uma espécie de “filial” para todo o estado da Rádio 88 FM,emissora tradicional no mercado cristão e lançada na década de 1990 pelo ex-deputado estadual Edson Albertassi em Volta Redonda,no Sul Fluminense.

— Não vou participar da programação,nem da gestão. Apenas fui consultor — afirmou Cunha ao GLOBO.

Cunha e Albertassi,integrantes do antigo PMDB que dominou a política fluminense,foram alvos da Lava-Jato e chegaram a ser presos. O ex-presidente da Câmara,investigado pelo braço de Curitiba da operação,teve penas anuladas e seus mandados de prisão foram revogados em 2021. Albertassi,alvo de um desdobramento da operação no Rio,teve sua condenação anulada em 2022. O processo,que antes corria na Justiça Federal,foi remetido para a Justiça estadual do Rio.

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No caso de Albertassi,com base em delação premiada do empresário Marcelo Traça,a Lava-Jato chegou a investigar suposto recebimento de propina através de rádios comandadas por seus familiares. Procurado,ele não retornou os contatos.

Hoje,a Rádio 88 FM está registrada em nome da esposa de Albertassi,Alice,e de seu filho,Isaque. Um dos apresentadores na programação é o radialista Betinho Albertassi (Republicanos),vereador em Volta Redonda e sobrinho do ex-deputado. Betinho atuou como mestre de cerimônias no evento do centenário da Assembleia de Deus,e foi o responsável por chamar ao palco,entre outros convidados,o próprio Cunha.

Aplauso e desconforto

Bolsonaro foi bastante aplaudido pelo público no Maracanãzinho,ao discursar via chamada de vídeo. Cunha,por outro lado,foi vaiado ao ser chamado por Betinho Albertassi ao palco.

O ex-presidente da Câmara argumenta que foi aplaudido ao fim de sua fala,e atribuiu as vaias a aliados do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) — que negou qualquer orquestração. Otoni,que foi lançado na política por Albertassi há mais de dez anos,é próximo ao bispo Abner Ferreira,líder da Assembleia de Deus de Madureira,e costura o apoio da igreja a Eduardo Paes. Antes de ser alvo da Lava-Jato,Cunha era presença recorrente no púlpito de Madureira.

Além do atrito com Otoni,a participação de Cunha trouxe à tona certo desconforto de lideranças evangélicas com suas movimentações no segmento. Com a expectativa de disputar futuramente uma fatia no mercado gospel com a rádio Melodia,a emissora organizada por Cunha e Albertassi concorrerá ainda com outra rádio gospel,a 93 FM,que é bem relacionada com o ramo de Madureira da Assembleia de Deus.

No dia seguinte ao evento,as redes sociais de deputados ligados a diferentes ramos da Assembleia de Deus,como Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Marco Feliciano (PL-SP),registraram comentários de seguidores com críticas à presença de Cunha no palco.

Feliciano chegou a posar para fotos junto com Dani Cunha e Ramagem. Vídeos de apoio à pré-candidatura do deputado do PL,replicados por aliados no WhatsApp nos últimos meses,têm destacado que ele fez parte,como policial federal,da equipe da Lava-Jato no Rio.

Aproximação com PL

Também presente no evento,Dani Cunha assumiu a linha de frente em movimentos que passam pela coordenação de seu pai. Além de seguir os passos de Cunha com espaço na programação de uma rádio gospel,a deputada anunciou no Maracanãzinho que apoiará a candidatura de Ramagem. Embora ainda filiada ao União Brasil,Dani rompeu com o partido e,na prática,já dá as cartas no Republicanos — a migração oficial precisa aguardar a janela partidária de 2026,sob risco da perda de mandato.

Nos bastidores,o ex-presidente da Câmara tem pressionado o Republicanos a aderir à campanha de Ramagem,lançado na disputa carioca por Bolsonaro. O movimento criou uma saia-justa para o prefeito de Belford Roxo,Waguinho,que também é presidente do diretório estadual do partido. Aliado de Cunha de longa data,Waguinho havia se comprometido a apoiar a reeleição do prefeito Eduardo Paes.

O ex-presidente da Câmara chegou a costurar uma aliança com Paes e emplacou nomes de sua confiança na gestão municipal,mas o prefeito recuou do acordo. Devido à influência de Cunha,Waguinho agora acena com um apoio pessoal,e não partidário,à reeleição de Paes.

— Independentemente da crise que o Eduardo (Paes) teve com o partido,vou colocar minha militância para apoiá-lo na capital,porque foi um pedido do presidente Lula — disse Waguinho.

Interlocutores consideram que a aproximação entre a família Cunha e Ramagem,além de retaliação a Paes,também mira a reaproximação do ex-presidente da Câmara com o público evangélico.

A avaliação de interlocutores é a de que um alinhamento a Bolsonaro é tão ou mais crucial do que o apoio de pastores para quem deseja ter prestígio entre fiéis. Na última eleição,embora derrotado por Lula,o ex-presidente era apoiado por dois em cada três evangélicos,segundo pesquisas de intenções de voto.

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