BELEZA Jul 19, 2024 IDOPRESS

Resíduo de usina produtora de açúcar causou mortandade de peixes no Rio Piracicaba, aponta Cetesb

Governo de SP usará drones para estimar número de morte de peixes após contaminação de rios — Foto: Reprodução/TV Globo

Governo de SP usará drones para estimar número de morte de peixes após contaminação de rios — Foto: Reprodução/TV Globo

Resíduos da produção de açúcar da Usina São José foram os responsáveis pela mortandade de peixes no Rio Piracicaba,que começou entre os dias 4 e 7 de julho,segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb),que deve divulgar o laudo final do acidente hoje. No fim de semana,foram descobertos milhares de peixes mortos na Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã Rio Piracicaba,criada em 2018 para proteger o que é chamado de “pantanal paulista”.

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Os resíduos teriam atingido o Ribeirão Tijuco Preto,afluente do Piracicaba,e alcançado a APA,a cerca de 60 km,onde vivem animais ameaçados de extinção,como a onça-parda,o lobo-guará,a jaguatirica e o jacaré-de-papo-amarelo. Drones estão sendo usados para avaliar a dimensão do estrago. Ontem,chegou à região um hidrotrator para retirar as toneladas de peixes mortos.

— O extravasamento deste tipo de produto não é usual. A carga orgânica no rio,associada à produção de açúcar,é 20 vezes maior se comparada ao esgoto normal — disse Adriano Queiroz,diretor de Controle e Licenciamento da Cetesb.

Queiroz explica que os resíduos foram decompostos por microrganismos que passaram a consumir muito oxigênio da água,asfixiando os peixes.

— Foi criado um círculo vicioso. Os peixes mortos também são decompostos por microrganismos que consomem ainda mais oxigênio,causando mais mortandade — acrescentou o diretor.

A Cetesb vai aplicar uma multa à Usina São José que pode alcançar R$ 50 milhões. A usina,que está com licenciamento ambiental vigente,teria de alertar as autoridades diante de qualquer situação atípica. Outro agravante,segundo a Cetesb,é que os danos alcançaram uma área de proteção ambiental. O Ministério Público abriu inquérito para investigar a responsabilidade pelo acidente. O vazamento pode ser qualificado como crime ambiental,além de administrativo.

A São José fica no município de Rio das Pedras,vizinho a Piracicaba. Pertence ao Grupo Farias,que atua também em Goiás e no Rio Grande do Norte. A usina estava parada desde 2020,mas o grupo anunciou que retomaria as operações da unidade em maio.

A empresa informou que acompanha a investigação e colabora com a Cetesb “para que as causas do incidente sejam esclarecidas”. Notificada a retirar os peixes mortos do rio,a usina afirmou que,embora não haja um documento oficial que ligue a sua operação à mortandade,começou a negociar com uma empresa especializada em limpeza de cursos d’água.

Poluição sem igual

Os responsáveis pela usina lembraram que houve mais de 15 ocorrências deste tipo na região nos últimos 10 anos. A Cetesb reconheceu que o trecho urbano do rio é poluído,mas em nenhum nível que se compare ao que foi detectado.

A última vez que milhares de peixes morreram no trecho do Piracicaba atingido pelos resíduos foi durante a seca de 2014,a maior dos últimos 50 anos na região. Foram três episódios num único ano. Na época,a explicação foi que a baixa vazão do rio reduzia o oxigênio. Agora,a tragédia é ainda maior.

— A extensão é inigualável. Estamos navegando o rio e a quantidade de peixes mortos é a perder de vista — afirma Tássia Espego,secretária de Administração de Piracicaba,que coordena a limpeza.

Helena Dutra Lutgens,presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo,afirma que um desastre ambiental como esse revela a enorme falha no sistema ambiental no estado.

— Multar não recompõe o ecossistema destruído. Não recupera o desastre causado — afirma a especialista.

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