Foto mostra consequências de ataque militar israelense a edifício no subúrbio sul de Beirute,no Líbano — Foto: ANWAR AMRO / AFP
Foto mostra consequências de ataque militar israelense a edifício no subúrbio sul de Beirute,no Líbano — Foto: ANWAR AMRO / AFP
GERADO EM: 08/08/2024 - 04:30
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A imensa maioria dos libaneses queria apenas um tranquilo verão para aproveitar as praias do Mediterrâneo e as montanhas mais frescas enquanto recebem os primos da diáspora vindos de Dubai,Detroit,São Paulo,Paris e Lagos. Apesar da crise econômica,que assola o país há quase meia década,ainda buscam caprichar nos almoços familiares e com amigos ao servirem quibe,esfirra,tabule,humus,coalhada e charuto de folha de uva. Abrem vinhos do Vale do Beqaa,tomam arak (licor de anis) ou algumas das tradicionais cervejas libanesas. Os mais jovens aproveitam para desfrutar das baladas e dos bares de Beirute,uma das mais vibrantes e boêmias metrópoles do planeta.
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Não querem guerra. Querem festa. Mas nasceram em um pequeno país do Levante famoso não apenas pela sua magia da neve,dos cedros e do mar como também pela tragédia dos conflitos militares. Ao longo dos séculos,foi palco de inúmeras guerras. As pessoas da minha geração,nascidas no final dos anos 1970,cresceram em meio a uma guerra civil envolvendo milícias cristãs e muçulmanas,além de forças estrangeiras de Israel,Palestina,Síria e EUA. Anos mais tarde,presenciaram a guerra de 2006. Receberam ao longo da história refugiados sírios,palestinos e iraquianos.
Neste pequeno país,por décadas houve ocupação síria e israelense. O Estado é disfuncional,sectário e frágil. Não há transporte público e a infraestrutura é deteriorada. Na falta de eletricidade,prédios usam geradores e casas instalam painéis solares,como um primo do meu pai me mostrou em visita à vila ancestral dos meus avós aos pés do Monte Hermon. O auge do colapso libanês foi a explosão do porto de Beirute há exatos quatro anos. Até hoje,ninguém foi punido pelas mortes de mais de 200 pessoas. Não há consenso para eleger presidente,que precisa ser cristão maronita,e o cargo está vago desde 2022. O primeiro-ministro,que precisa ser sunita,é interino.
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O Exército do Líbano sequer é a maior força militar do país. Uma milícia criada e armada pelo Irã desde a ocupação israelense do sul libanês nos anos 1980 e 1990 desfruta de mais poder. É o Hezbollah,que atua como uma espécie de Estado paralelo nas áreas xiitas libanesas no sul do Líbano e no sul de Beirute,com presença menor ou quase inexistente em regiões sunitas e cristãs. O maior problema do grupo,no entanto,está na capacidade de travar guerras contra adversários estrangeiros à revelia do governo e dos interesses dos libaneses. Leva muito mais em consideração a agenda iraniana. Inclusive,a organização é acusada de realizar atentados que mataram rivais dentro do Líbano no passado,como Rafik Hariri em 2005,um popular primeiro-ministro que estava na oposição quando foi assassinado em um ato terrorista na marina de Beirute.
Hassan Nasrallah,líder do Hezbollah,vive escondido. Seu apoio se concentra entre os xiitas,que correspondem a cerca de um terço da população libanesa. Apenas 6% dos cristãos,8% dos sunitas e 8% dos drusos dizem apoiar o grupo xiita. Isto é,para a maioria dos libaneses,a organização não os representa.
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Embora Israel não desfrute de simpatia e a causa palestina conte com enorme suporte entre os libaneses,ninguém quer ser bombardeado pelos israelenses. Não vivem sob ocupação,como os palestinos. Israel se retirou do Líbano em 2000 e a única área reivindicada pelos libaneses são as Fazendas de Shebaa e Ghajjar,que possuem pouca importância. Preferiam ser solidários aos palestinos,mas sem conflito militar contra os mais poderosos israelenses. Uma postura similar à da Jordânia. Mas serão Nasrallah e Benjamin Netanyahu que decidirão o futuro dos libaneses independentemente de como eles pensem. E o risco de guerra é enorme.
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