Casas destruídas após incursão ucraniana na região russa de Kursk — Foto: Governador da Região de Kursk/AFP
Casas destruídas após incursão ucraniana na região russa de Kursk — Foto: Governador da Região de Kursk/AFP
GERADO EM: 16/08/2024 - 04:00
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Marina,Evgueni e seus filhos contam ao chegar a Moscou sobre os bombardeios que estremeceram seu vilarejo e os forçaram a fugir precipitadamente da província russa fronteiriça de Kursk devido ao avanço do Exército ucraniano. As tropas de Kiev lançaram em 6 de agosto uma ofensiva relâmpago na Rússia e desde então tomaram dezenas de localidades.
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De acordo com as autoridades locais,mais de 120 mil pessoas fugiram dos combates e dos bombardeios. Marina e Evgueni,que pediram para que seus sobrenomes e o nome da localidade onde viviam não fossem publicados,perceberam durante a primeira noite da ofensiva que as explosões eram mais frequentes do que as que costumavam ouvir no local,perto da cidade de Korenevo,a cerca de 10 km da fronteira com a Ucrânia.
A família já estava acostumada a ouvir estrondos distantes desde o início da ofensiva russa em fevereiro de 2022,mas naquela noite a intensidade se tornou insuportável,conta Marina,uma cabeleireira de 39 anos. Seus dois filhos,de 8 e 17 anos,"pediam para que fôssemos embora",lembra a mulher,com lágrimas nos olhos. O vilarejo ficou primeiro sem eletricidade e água e depois a rede telefônica foi cortada.
As explosões se tornaram tão próximas que "era muito forte,a casa tremia e os drones voavam" pelo céu,diz Marina. Apesar dos riscos,Evgueni decidiu levar a família até Kursk,capital da província homônima,"por alguns dias",pensava ele. Resignaram-se a deixar o cachorro e o gato no local.
Partiram de carro em direção ao posto de gasolina para encher o tanque. Ao ver a longa fila de carros na estrada e os lugares próximos sem habitantes,perceberam a magnitude do ataque.
A família conseguiu chegar a Kursk na manhã de 8 de agosto e foi acomodada em um centro para evacuados. Seus vizinhos não tiveram tanta sorte e foram feridos por um drone enquanto fugiam de carro. Outros encontraram minas na estrada. "E,acima de tudo,cadáveres,até ao volante de seus veículos carbonizados" ou ao lado deles,conta a família.
Marina,Evgueni e seus filhos trabalharam alguns dias em Kursk como voluntários distribuindo ajuda humanitária a outros deslocados.
"Esperávamos que tudo acabasse logo",diz Marina.
Mas no domingo,restos de um míssil ucraniano caíram em um prédio residencial em Kursk,ferindo 15 pessoas,de acordo com as autoridades. A família decidiu então seguir viagem até Moscou,onde era aguardada por amigos de infância. Agora,oito pessoas vivem em um pequeno apartamento de um cômodo no norte da capital russa.
Marina e Evgueni tentam se informar constantemente das últimas notícias que circulam nas redes sociais sobre o que acontece na província de Kursk. Meia hora antes de se encontrar com os jornalistas da AFP em um centro de distribuição de ajuda humanitária do Patriarcado da Igreja Ortodoxa de Moscou,Evgueni finalmente conseguiu contatar um vizinho que confirmou que o Exército ucraniano está ocupando o vilarejo.
"Eles se instalaram na casa do meu sogro,que acabava de ser reformada,perto do armazém,que já saquearam",lamenta.
Muitos vizinhos já não conseguem partir. "E isso cria um problema para as nossas tropas,que não podem atirar [contra as posições ucranianas] devido à presença de civis",explica. "Francamente,a situação é complicada. Ninguém vai tirar [as forças ucranianas] em um dia. Quanto mais tempo eles ficarem lá,mais difícil será tirá-los",comenta.
"E para tirá-los,será necessário demolir e bombardear nossas casas e não restará lugar para nós. Então,não nos resta mais nada",lamenta.
O vizinho conseguiu que o gato e o cachorro de Marina e Evgueni saíssem da casa da família,onde estavam trancados há vários dias.
"Agora terão que buscar alimento por conta própria nas ruas",diz com tristeza Evgueni,sugerindo um paralelo com sua própria situação.
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