Da esquerda para direita,Jesus (Andrei Marques),Pipoca (Wendy Queiroz),Sete (Patrick Congo) e Douglas (Samuel Silva) — Foto: Guilherme Leporace/Netflix
Da esquerda para direita,Jesus (Andrei Marques),Pipoca (Wendy Queiroz),Sete (Patrick Congo) e Douglas (Samuel Silva) — Foto: Guilherme Leporace/Netflix
As crianças e os adolescentes que dormiam no entorno da Igreja da Candelária na época da chacina lo local,em 1993,tinham sonhos — no sentido literal e figurado. E é do que elas imaginavam para o futuro — e também do que tinham vivido no passado antes de ocuparem as calçadas do Centro do Rio — que trata “Os quatro da Candelária”,minissérie da Netflix com estreia marcada para esta quarta-feira.
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Os episódios contam as 36 horas antes chacina na vida de personagens ficcionais sobreviventes do crime,que na vida real tirou a vida de oito adolescentes e foi cometido por agentes policiais. Para criar Douglas (Samuel Silva),Sete (Patrick Congo),Jesus (Andrei Marques) e Pipoca (Wendy Queiroz),o diretor da produção,Luis Lomenha,recorreu à ajuda de sobreviventes,que ressaltaram,em todas as conversas,o quanto eles sonhavam — enquanto dormiam,apesar dos perigos da rua,e quando estavam acordados.
—“Os quatro da Candelária” não é uma série sobre carência — diz Luis. —E não é sobre a chacina,é sobre o poder da infância.
Por isso,a lista de inspirações do criador e diretor da produção passa por nomes da “literatura fantástica latino-americana”,como no Gabriel García Márquez,e obras afrofuturistas,que misturam ancestralidade com distopia,como a franquia hollywoodiana “Pantera Negra”. A violência crua dos favela movies ou as reconstituições dos true crimes passam longe dos quatro episódios. A cena da chacina em si,diz Marcia Faria,que assina a direção com Luis,não tem “corpos negros no chão” por uma escolha.
Samuel Silva em cena de 'Os quatro da Candelária' — Foto: Divulgação
— Os roteiros não focam exatamente na violência — reitera Marcia. — Ela está (ali subjacente) porque foi uma tragédia brutal. Mas o fato de ser o ponto de vista das crianças,36 horas antes da chacina,e de a gente acompanhar a vida,os sonhos,os desejos delas,humaniza.
Gravada no segundo semestre de 2022 em frente à própria igreja e nas ruas do Centro (“a região é sub-representada no audiovisual e,ao mesmo tempo,tem uma história tão grande e complexa quanto as periferias”,diz Luis),a série marca a estreia de três dos quatro protagonistas no audiovisual. Somente Patrick Congo havia feito participações em outras produções,como “Dom”,do Prime Video,e em novelas da TV Globo,como “Amor de mãe” (2019) e “Um lugar ao sol” (2021). Wendy,a caçula do grupo,hoje com 9 anos,tinha alguma experiência artística por ser rapper mirim — e é também intérprete de libras. Mas Andrei Marques,de 18,e Samuel Silva,de 15,nunca haviam estado diante das câmeras. Andrei era lutador de jiu-jítsu e Samuel foi descoberto por Leandro Firmino,um dos famosos do elenco,que também tem Bruno Gagliasso,Maria Bopp e o cantor Péricles.
— Uma vez,o Leandro me ligou e falou assim: “Estou no ônibus em São Gonçalo e tem um moleque tocando violino muito bem. Ele tem 13 anos,se chama Samuel e me disse que quer ser ator. Sei que você está procurando,não quer dar uma olhada nele?” — conta Luis. — Falei para mandar um vídeo,mas Samuel não tinha internet em casa,morava no Coelho,em São Gonçalo,uma comunidade bem empobrecida. Ele foi à casa do Leandro e gravou. Quando olhei,falei: “é ele”.
Sobre Andrei Marques,que recentemente terminou de filmar “Corrida dos bichos”,dos diretores Fernando Meirelles,Ernesto Solis e Rodrigo Pesavento,Luis afirma:
—Acho que é o nosso ator mais cerebral. É realmente um grande ator. E ainda tem essa coisa de ser lutador,então pode ser dublê das próprias cenas agora que é maior de idade.
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