Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo,que fazem exposição em Washington — Foto: Filipe Berndt/Divulgação
Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo,que fazem exposição em Washington — Foto: Filipe Berndt/Divulgação
GERADO EM: 04/11/2024 - 20:45
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No fim da década de 1970,ainda bem pequenos,os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo já faziam alguns rabiscos que,em certa medida,permanecem até hoje nos grafites que espalharam por São Paulo e outras metrópoles globais ao longo das últimas décadas. Agora,comemorando 50 anos de idade,os grafiteiros univitelinos estampam o cartaz de uma exposição retrospectiva,“OSGEMEOS: endless story” ("História sem fim",em português),que fica no Hirshhorn Museum and Sculpture Garden,de Washington (EUA),até agosto de 2025.
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A mostra conta com cerca de mil itens,entre obras de arte,fotografias e materiais de arquivo. Lá,os desenhos da infância são vistos como a gênese de uma produção que veio se aperfeiçoando e ganhando mais e mais conceitos.
— É como se tivéssemos guardado num HD todos os desenhos que fizemos (na infância). Pegamos aqueles feitos aos 4,6 ou 10 anos e,sem a gente saber,tem coisa ali que é igual ao que fazemos hoje — afirma Otávio em entrevista ao GLOBO,por videochamada,ao lado do irmão,em São Paulo.
Transportar a identidade tão ludicamente urbana dos gêmeos para a sala de uma galeria ou museu não é uma tarefa fácil,explica Marina Isgro,curadora do Hirshhorn Museum.
— Pode ser complicado exibir arte de grafite em museus porque ela corresponde de forma muito direta ao espaço público e ao ambiente urbano — ela afirma,explicando que a mostra busca fisgar o público também por meio de elementos visuais. — Embora OSGEMEOS tenham começado como grafiteiros,hoje eles trabalham com muitos meios diferentes. Criam grandes pinturas em madeira e tela,esculturas coloridas com luz e som e instalações imersivas.
Vista de sala com obras da infância dos irmãos Pandolfo na mostra 'OSGEMEOS: Endless story',no museu Hirshhorn Museum and Sculpture Garden — Foto: Rick Coulby/Divulgação
As obras expostas no Hirshhorn mostram as inspirações dos irmãos,o que inclui o bordado de sua mãe,Margarida Pandolfo,o hip-hop americano,o breakdance,a natureza e os sonhos e a ficção científica. Por meio desses elementos,a ideia é que a mostra seja um portal para o mundo fantástico no qual acreditam,dizem eles.
No museu americano,os trabalhos de Gustavo e Otávio são vistos numa sala 360°,ressoando a própria “história sem fim”,do título da exposição. Assim,o visitante que chega ao final da mostra se encontra no ponto inicial no qual começou.
Mas o nome não é apenas uma referência ao espaço físico,observa Gustavo:
— A gente enxerga o nosso trabalho de forma muito atemporal,não só pela linguagem,mas pelas mensagens por trás dele. Para nós,a vida é uma passagem,mas o nosso trabalho é muito infinito e permanece.
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Exposição convida o público a um mergulho no universo dos irmãos
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Irmãos passaram duas semanas preparando a montagem da mostra no Rio
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Autoretrato dos irmãos pintados em São Paulo
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Gustavo e Otávio,mais conhecidos como OSGEMEOS,exibem retrospectiva no Rio — Foto: Chico Cherchiaro
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A obra “Cabelo onda” é uma das criações dos irmãos
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Mural permanente,realizado em parceria com Loomit e Peter Michalski,Munique,na Alemanha
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Os irmãos reforçam que,desde a infância,a sua criatividade de garotos estava sincronizada. Naquele tempo,eles ficavam em seu pequeno quarto,num sobrado no bairro do Cambuci,zona central paulistana,inventando o próprio universo fantástico,e as ideias de um complementavam a do outro.
Claro que,àquela altura,eles consideravam o desenho uma brincadeira. Mas,ainda assim,havia “conceitos” por trás das fantasias (“Queria que nossos pais tivessem gravado”,lembra-se Gustavo das explicações que davam sobre as artes).
Fato é que tudo isso resultaria no Tritez,como eles nomearam o cosmo paralelo que os tornou conhecidos mundialmente como OSGEMEOS.
— Muitas pessoas perguntam como conseguimos guardar tanta coisa para a exposição porque geralmente isso acaba se perdendo mesmo. Devemos muito aos nossos pais,que foram guardando (as obras) desde que éramos pequenininhos — diz Otávio.
Além dos pais,quem estava de observador,apoiando esse processo,era o irmão mais velho,Arnaldo Pandolfo,também artista,de 61 anos. Certa vez,para ficar mais à vontade com uma namorada,ele colocou o filme “The wall”,do Pink Floyd,para os pequenos assistirem. E acredita que o longa influenciou “não só a obra,mas a maneira de ver o mundo” dos garotos.
— No início,era tudo brincadeira,nada foi de propósito. Essas trocas (sobre o processo criativo) eram importantes também para mim. Às vezes,me realizava com a mão deles. Tivemos muitas conversas sobre cores,formas e estilos — lembra Arnaldo.
Obra '1980',exposta na retrospectiva — Foto: Divulgação
Conforme iam amadurecendo,OSGEMEOS começaram um processo de consolidar um estilo próprio com artes em espaços públicos. Humanoides,amarelos e marrons,são vistos em pinturas em diversas situações: uma deusa cheia de adereços num altar; uma família que busca se afastar da amarga condição financeira através da alegria,do break (uma dança de rua); um casal dançando num espaço cercado por muretas,cheias de arte de rua,e por aí vai. Assim,revelam um Tritez onde o hip-hop passa a ser uma cultura de vida,de forma que um pequeno rádio quase sempre aparece em algum canto da tela.
Gustavo conta que a relação deles com o gênero musical aconteceu de maneira muito natural,no início da década de 1980,no Cambuci:
— Os caras ligavam o rádio e ficavam na rua dançando. A gente ia de bike e acabou aprendendo também — rememora o artista.No final da década de 1970,os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo já faziam alguns rabiscos — traços remanescentes em certa medida até hoje,dizem eles,nos grafites famosos que espalharam pela cidade de São Paulo e outras metrópoles globais. Desde a infância,já parecia uma criatividade sincronizada. Os gêmeos univitelinos ficavam em seu pequeno quarto,inventando o próprio universo fantástico e as ideias de um complementavam a do outro.
É claro que àquela altura,os irmãos tinham o desenho mais como uma brincadeira. Havia “conceitos” por trás inclusive (”Queria que nossos pais tivessem gravado”,lembra-se Gustavo das explicações que davam sobre cada arte),mas fantasia de criança. Fato é que tudo isso resultaria no Tritez,assim nomeado o cosmo paralelo,que os fizeram conhecidos mundialmente como OSGEMEOS mais tarde.
'A Deusa' (2019) — Foto: Filipe Berndt/Divulgação
Comemorando 50 anos,os irmãos estampam o cartaz de uma exposição retrospectiva,“OSGEMEOS: Endless Story” (uma história sem fim,na tradução para o português),no Hirshhorn Museum and Sculpture Garden,em Washington (EUA),até agosto do próximo ano. A mostra conta com aproximadamente mil itens. Lá,os desenhos da infância são vistos como a gênese de uma produção que veio se aperfeiçoando e ganhando mais e mais conceitos.
— Todos os desenhos que fizemos (na infância) é como se tivéssemos guardado num HD. Pegamos aqueles feitos aos 4,6 ou 10 anos e sem a gente saber tem coisa ali que é igual o que fazemos hoje — afirma Otávio. — Muitas pessoas perguntam como conseguimos guardar tanta coisa para a exposição porque geralmente isso acaba se perdendo mesmo. Devemos muito aos nossos pais que foram guardando desde que éramos pequenininhos.
Além dos pais,quem estava de observador e apoiador neste processo era o irmão dos gêmeos,formas,estilos — lembra Arnaldo.
Conforme iam amadurecendo,são vistos em pinturas em diversas situações como: uma deusa cheia de adereços num altar; uma família que busca se afastar da amarga condição financeira através da alegria,do break (uma dança de rua); e um casal dançando num espaço cercado por muretas,cheias de arte de rua. Assim,revelam um Tritez onde o hip hop passa a ser uma cultura de vida,no Cambuci:
— Os caras ligavam o rádio e ficavam na rua dançando. A gente ia de bike e acabou aprendendo a dançar também — lembra.
No local onde aconteciam as reuniões descoladas,eles prestavam atenção nas estampas das camisetas que os garotos vestiam. “Vocês pintam as roupas? Que legal,a gente também gosta de desenhar”,logo se enturmaram para,na sequência,começarem eles mesmos a confeccionar estas artes. Daí em diante isso só evoluiu,ganhando as ruas de São Paulo.
Transportar a identidade urbana para a sala monocromática de uma galeria ou museu não é uma tarefa fácil. Para Marina Isgro,curadora do Hirshhorn,a mostra busca fisgar o público também por meio de outros elementos visuais.
— Pode ser complicado exibir arte de grafite em museus porque ela corresponde de forma muito direta ao espaço público e ao ambiente urbano — afirma ela. — Mas,embora OSGEMEOS tenham começado como grafiteiros,esculturas coloridas com luz e som e instalações imersivas.
No museu,as obras de Gustavo e Otávio são apresentadas numa sala 360°,do título da exposição. Mas o nome não é apenas uma referência ao espaço físico,mas as mensagens por trás dele. Para nós,mas o nosso trabalho é muito infinito e permanece.
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