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‘Essa guerra não é minha’: Voto contra ajuda à Ucrânia avança e pode mudar postura da Europa sobre conflito

Calin Georgescu,candidato pró-Kremlin que foi o mais votado no primeiro turno da eleição presidencial na Romênia — Foto: Daniel MIHAILESCU / AFP

Calin Georgescu,candidato pró-Kremlin que foi o mais votado no primeiro turno da eleição presidencial na Romênia — Foto: Daniel MIHAILESCU / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 29/11/2024 - 17:31

Mudança Política na Europa devido à Guerra na Ucrânia

Guerra na Ucrânia gera perplexidade na Europa. Mudança de postura eleitoral em países como Romênia,Eslováquia e Alemanha indica apoio a cessar-fogo e negociações,desafiando tradicional suporte à Ucrânia. Crescente descontentamento com establishment reflete-se em eleições e favoritismo a candidatos pró-Rússia. Insegurança econômica e desinformação russa influenciam cenário político. Geórgia também impactada,com medo de invasão russa.

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Após um resultado considerado o mais surpreendente desde a democratização do país,nos anos 1980,a Romênia volta às urnas neste domingo para eleições legislativas,e mais uma vez sob a sombra da Rússia. Na votação presidencial,há uma semana,o candidato Calin Georgescu,pró-Kremlin,terminou na frente e irá ao segundo turno. Agora,as pesquisas apontam que uma sigla igualmente crítica ao apoio a Kiev pode terminar como a maior força parlamentar.

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Os resultados não são um fenômeno isolado. Com o conflito se aproximando dos três anos,o eleitorado europeu está menos apto a manter o suprimento de armas e dinheiro para os ucranianos,e mais favorável a um cessar-fogo. Em 2023,a Eslováquia levou ao poder o premier Robert Fico,que prometia “não enviar uma bala sequer” a Kiev. Em junho,a eleição para o Parlamento Europeu levou a Estrasburgo um grupo considerável de eurodeputados que fala cada vez mais alto contra o apoio do bloco à Ucrânia. Na Bulgária,um ator estratégico na guerra,os partidos pró-Rússia ganharam força em um país que deve enfrentar sua oitava eleição geral em três anos.

No caso romeno,Georgescu apelou para o bolso da população. Ao mesmo tempo em que dizia ser o candidato “pela paz”,citava as elevadas contribuições feitas à Ucrânia,traçando um paralelo com a nada confortável situação econômica local. O país tem a maior taxa de pobreza da União Europeia,além da inflação de 5% ao ano,a mais alta do bloco.

Manifestante durante protesto diante do Parlamento da Romênia,após anúncio de resultados da eleição parlamentar — Foto: Daniel MIHAILESCU / AFP

Com a confirmação de que iria para o segundo turno com a candidata pró-Ucrânia Elena Lasconi,de centro-direita,Georgescu disse que concorria “por aqueles que sentem que não importam,e na verdade são os que mais importam”.

— Existe um aspecto muito importante que é a insatisfação das populações com os candidatos do establishment,que não estão conseguindo gerenciar as perdas relativas do bem-estar da população — disse ao GLOBO Paulo Bittencourt,pesquisador de Ciência Política no Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). — E em um continente tão interligado como a Europa,é mais fácil atribuir os problemas que ocorrem dentro do país à guerra.

Os candidatos ainda não iniciaram a nova campanha: na quinta-feira,a Suprema Corte determinou a recontagem dos votos,o que pode alterar o segundo turno. Lasconi teve cerca de 2,8 mil votos a mais do que o atual premier,Marcel Ciolacu,e que chegou a ser apontado como favorito. Nas eleições legislativas,as pesquisas,que não previram a disparada de Georgescu,sugerem que a extrema direita,representada pela Aliança pela União dos Romenos,pode terminar como a maior força do Parlamento,mas sem o número necessário de cadeiras para comandar o governo.

Uma sondagem realizada em países da União Europeia,em maio,e compilada pelo Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) revelou que a maioria dos entrevistados acredita em uma solução negociada,incluindo concessões territoriais aos russos. A percepção transborda até entre os principais apoiadores da Ucrânia,como o presidente tcheco,Petr Pavel.

— O resultado mais provável da guerra será que uma parte do território ucraniano ficará sob ocupação russa,temporariamente — disse ao New York Times,acrescentando que,para ele,esse período temporário “pode durar anos”.

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O próximo grande teste sobre a guerra está marcado para fevereiro,quando a Alemanha vai às urnas em eleições antecipadas. Embora as pesquisas mostrem que a União Democrata-Cristã (CDU,centro-direita) deverá retornar ao governo,elas também apontam que a Alternativa para a Alemanha (AfD) e a novata Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) ganharão espaço. Ambas questionam a ajuda à Ucrânia,e querem um fim negociado e urgente para o conflito.

Em setembro,a AfD venceu as eleições no estado da Turíngia,e ficou em segundo na Saxônia,a menos de cinco pontos percentuais da CDU,que terminou em primeiro. Desde o começo da guerra,a sigla de extrema direita evita críticas diretas à invasão russa,e associa a queda no padrão de vida dos alemães à guerra,citando,por exemplo,a alta nos preços da energia,ligada ao corte do suprimento de gás e petróleo vindos da Rússia.

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Na pesquisa do ECFR,24% dos alemães dizem que a UE desempenhou um papel negativo na guerra (34% dizem ter sido positivo),40% acreditam ser uma “má ideia” aumentar o envio de armas (43% discordam) e apenas 9% afirmam que Kiev vencerá (20% dizem que a vitória será russa).

Sobre as negociações,43% dizem ser a melhor saída para o fim das hostilidades,uma posição vista até nos partidos que integram o atual Gabinete: para 37% dos apoiadores da CDU,e 30% do Partido Social-Democrata (SPD),do chanceler Olaf Scholz,a hora é de diplomacia. No campo dos céticos,61% dos eleitores da BSW e 75% da AfD afirmam que a Europa deve pressionar a Ucrânia para que negocie um acordo de paz com a Rússia.

— Um golpe fundamental neste sentido é a eleição de Donald Trump nos EUA — opinou Bittencourt. — Ele tem esse discurso em comum com outros líderes europeus,de que não precisa pagar pela defesa da Ucrânia,que não precisa defender a democracia na Ucrânia porque não vê isso como um problema seu.

Discurso do medo

Se na União Europeia o debate é sobre a manutenção do apoio à guerra,na Geórgia,candidata a integrar o bloco,o conflito serviu para instigar o medo. Antes da eleição parlamentar de outubro,o partido governista,o Sonho Georgiano,sugeriu que a vitória da chapa de oposição poderia ser o estopim para uma nova invasão russa,como a de 2008.

Em entrevista ao GLOBO,Heitor Loureiro,professor de Relações Internacionais,afirmou que,com o prolongamento do conflito na Ucrânia,forças locais,especialmente os governistas,“começaram a defender que a estabilidade dependia não de um antagonismo frente a Moscou,mas de algum grau de acomodação de interesses mútuos”.

Logo após a vitória do Sonho Georgiano,lideranças em Tbilisi enviaram sinais amistosos a Moscou,incluindo a suspensão das negociações para a adesão à UE até 2028. Nos últimos dias,manifestantes pró-Europa tomaram as ruas,exigindo a reversão da medida. Na sexta-feira,mais de 40 pessoas foram presas.

— A imprensa russa trata a vitória do Sonho Georgiano como uma derrota do Ocidente,e isso tem uma boa dose de profecia autorrealizável: o sinal é de que se Tbilisi frear qualquer tipo de movimento em direção ao Ocidente,a situação do país do Cáucaso em relação às suas fronteiras tende a ser estável — disse Loureiro.

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