Baianas do Salgueiro dançam o caxambu: segundo Emerson Menezes,a dança busca “dar prosseguimento a um legado para a diáspora africana no Brasil” — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Baianas do Salgueiro dançam o caxambu: segundo Emerson Menezes,a dança busca “dar prosseguimento a um legado para a diáspora africana no Brasil” — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
GERADO EM: 30/11/2024 - 20:40
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Como outras escolas de samba,que começaram a surgir nos anos 1920,quando boa parte da população negra foi afastada da região central da cidade para povoar os subúrbios,o Acadêmicos do Salgueiro (criado em 1953,a partir da fusão de outras duas agremiações) também carrega o nome da sua comunidade de origem,com pouco mais de 3.300 moradores no bairro da Tijuca,na Zona Norte. Já o morro tem essa denominação por conta do comerciante português Domingos Alves Salgueiro,dono de propriedades no local. Vistos como espaços que agregam quem chega,a favela e a escola se unem a todo o Rio amanhã para comemorar o Dia Nacional do Samba. E chegam a esses tempos de celebração podendo,sim,ostentar o título de um “quilombo” do samba.
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— Se a gente for pensar na definição de quilombo como lugar onde os negros e negras escravizados se reuniam na época da escravidão,para ter um lugar seguro onde pudessem apoiar uns aos outros e lutar por liberdade e contra o sistema injusto,no caso do Salgueiro a gente entende que,desde os tempos da fundação da escola para cá,ela e o morro sempre foram esses locais onde pessoas podiam se juntar em segurança para se sociabilizar e exercer sua arte,que era marginalizada e perseguida— define o jornalista Leonardo Bruno,que se uniu a Nei Lopes para escrever o livro “Salgueiro,o ‘Quilombo’ Moderno: batuqueiro,mandingueiro,diferente”,que terá um novo lançamento na quadra da Rua Silva Teles,durante a feijoada da escola,no próximo domingo,dia 8.
A publicação é o sétimo volume da coleção Acervo Universitário do Samba,projeto da Uerj,e mostra como a vermelho e branco tijucana foi revolucionária em várias áreas,desde os sambas marcantes até as inovações estéticas na Avenida,que inspiraram outras agremiações. O livro mostra também que,com sua vida cultural agitada,o Salgueiro servia como ponto de encontro de bambas vindos de diferentes pontos da cidade. Seus bailes,festas e agremiações carnavalescas atraíam figuras como Noel Rosa e Geraldo Pereira.
Entre os visitantes ilustres estão ainda o escritor inglês Aldous Husley,autor de “Admirável Mundo Novo”,e a atriz francesa Martine Carol,de filmes como “A Volta ao Mundo em 80 dias”,de 1956. A Tenda Espírita Espírito Santo,de Paulino de Oliveira,um dos fundadores da vermelho e branco inspirou o cineasta francês Marcel Camus,que no premiado “Orfeu da Conceição”,também de 1956,reproduziu o espaço em estúdio numa cena que contou com a participação de moradores do morro.
A publicação também retrata personagens famosos e anônimos que deram sua contribuição para fazer da escola o que ela se transformou hoje: uma das maiores campeãs do carnaval carioca,com nove títulos,a maioria conquistada nas duas primeiras décadas de existência. Uma dessas pessoas é Maria da Glória Lopes Carvalho,a Tia Glorinha,de 78 anos,a baiana mais antiga da agremiação.
Filha de pais mineiros,a atual presidente da ala das baianas nasceu no Morro do Salgueiro e nunca saiu de lá. De uma família de sambistas,testemunhou o surgimento da escola e acredita que não tinha como fugir à sina de se tornar salgueirense,morando a poucos metros da antiga quadra na Rua Francisco Graça,onde hoje é a sede do bloco carnavalesco Raízes da Tijuca.
— Costumo dizer que sou salgueirense desde a barriga da minha mãe,que também foi baiana. Atualmente,sou representante da quarta geração de baianas da mesma família — afirma Tia Glorinha,uma das figuras mais conhecidas no morro e na escola de samba.
De seu portão,a baiana pode observar,do outro lado da rua,o mural do projeto Negro Muro que eternizou numa parede as imagens de baluartes como Djalma Sabiá,Mestre Louro,Almir Guineto,Bala,Joaquim Casemiro Calça Larga,Anescarzinho,Noel Rosa de Oliveira e Geraldo Babão. Tia Glorinha,que testemunhou o surgimento da escola,lembra que na época o chão da quadra ainda era de terra batida e o teto de zinco.
Anos depois,o Salgueiro desceu o morro para ocupar um espaço na Rua Silva Teles,onde fica sua atual sede. A antiga,na favela,ainda recebe eventos da agremiação,como ensaios de comunidade. O clipe do samba-enredo de 2025 teve parte das gravações feitas no local,numa espécie de homenagem à raiz salgueirense. Um dos autores é Xande de Pilares. Também retratado no livro,o artista cresceu no vizinho Turano,mas fez do Salgueiro sua casa. Na adolescência,trabalhou no barracão da escola e,como compositor,emplacou quatro sambas campeões,incluindo o atual.
Ainda no quesito resistências cultural,o Salgueiro mantém ativo o núcleo do caxambu,para dar visibilidade a essa manifestação afro-brasileira e repassar a tradição aos mais novos.
— A importância de manter viva essa tradição é dar prosseguimento a um legado para a diáspora africana no Brasil. É a história do nosso povo — aponta Emerson Menezes,coordenador-executivo do Grupo Cultural Caxambu do Salgueiro,uma das 14 comunidades de caxambu e jongo do estado.
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