A descarbonização com eletricidade e gases renováveis (biometano e hidrogénio) representa uma poupança de cerca de 2.500 milhões de euros face à eletrificação extensiva, segundo um estudo da Roland Berger para a Floene, hoje divulgado.
"Se queremos descarbonizar de forma sustentável,devemos considerar a utilização equilibrada de todas as opções disponíveis,em especial aquelas que apresentam menores custos (para famílias e empresas) e que podem ser implementadas de forma mais rápida (infraestrutura pronta),mais económica (poupança de custos globais em cerca de 2.500 milhões de euros que representam mais de 60%) e mais segura (diversidade de fontes de energia renovável e produção endógena)",concluiu o estudo encomendado pelo maior operador de distribuição de gás em Portugal.
Em termos de custos de sistema para adaptação das redes existentes em Portugal,esta chamada descarbonização equilibrada representa um investimento entre 1.120 a 1.740 milhões de euros,que compara com 1.920 a 3.200 milhões (mais custos de adaptação nas habitações e indústrias) no caso da eletrificação extensiva,e com 1.430 a 2.020 milhões (mais custos nos clientes) no caso do recurso extensivo ao hidrogénio.
Numa apresentação do estudo à imprensa,o presidente executivo da Floene,Gabriel Sousa,considerou que o hidrogénio que não está disponível para já,ao contrário do biometano,destacando a vantagem de não ser necessário alterar os equipamentos nas habitações.
O responsável defendeu que "o que deve acontecer o quanto antes em Portugal é converter biogás para biometano",adiantando que existem atualmente 70 unidades,sobretudo em aterros sanitários,a produzir biogás,que está a ser queimado para produzir eletricidade.
Nestes casos,explicou,a maior parte do investimento já está feito e falta apenas a parte que trata da purificação do gás,que pode representar um investimento de até 1,5 milhões de euros.
"O gás natural tenderá a ser substituído por gases renováveis. A rede é a mesma,é um ativo superior a 3.000 milhões de euros que está apto a entregar energia verde à economia nacional" sublinhou Gabriel Sousa,realçando ainda a fiabilidade deste recurso,importrante para a indústria.
Para a Floene,a utilização de bombas de calor para a tipologia de habitação existente no país "pode não ser a melhor solução",comparativamente ao esquentador a gás,e,segundo o estudo hoje apresentado,se o segmento residencial for retirado do sistema de gás,as tarifas para a indústria (mais dependente do gás) vão subir.
Adicionalmente,o estudo aponta que o biometano é uma solução para a gestão de resíduos e contribui para a mitigação da contaminação de solos e águas,sendo possível "ter um sistema de gás totalmente descarbonizado com o potencial de produção que temos em Portugal",garantiu Gabriel Sousa.
O Plano de Ação para o Biometano,aprovado em Resolução do Conselho de Ministros de 15 de março deste ano,estabelece o objetivo de substituir 9% do gás natural por biometano,até 2030.
Para a Floene,esta meta é "fortemente ambiciosa,mas não é impossível lá chegar",adiantando que recebeu mais de 170 pedidos de informação para injeção de hidrogénio verde e biometano nas redes que opera.
O estudo sinaliza ainda algumas prioridades políticas e de regulamentação a adotar,com vista à descarbonização da rede de gás,destacando o maior apoio ao investimento para acelerar a oferta,o incentivo à conversão das unidades de biogás em biometano e a partilha de investimentos entre o produtor de gás e o operador da rede de distribuição (seguindo o modelo francês de 60% do custo assegurado pelo sistema e os restantes 40% pelo produtor).
Assim,a Floene defende que são necessários "sinais claros" do Governo para que os produtores passem do biogás para a produção de biometano,o que,numa primeira fase,deve ser subsidiado,mas adiantou que o atual Governo tem mostrado sinais positivos relativamente ao desenvolvimento dos gases renováveis,contando,por isso,ver o biometano "mais representado" na revisão do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030),que deverá estar concluída em breve.
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