A advogada Juliana Souza — Foto: Felippe Costa RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você GERADO EM: 19/09/2024 - 04:02
A advogada Juliana Souza — Foto: Felippe Costa
GERADO EM: 19/09/2024 - 04:02
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'Foi numa quarta-feira,durante a checagem de rotina dos processos os quais atua,que a advogada Juliana Souza descobriu que seu trabalho agora fazia parte de uma decisão histórica: a maior sentença já aplicada no Brasil por racismo e injúria racial para casos com uma só vítima. Na decisão em questão,a Justiça Federal do Rio de Janeiro condenou,em 21 de agosto deste ano,Dayane Alcântara Couto de Andrade,que se apresenta como socialite,influenciadora e escritora,a oito anos e nove meses de prisão em regime fechado por ofensas racistas contra Chissomo,a filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank conhecida como Títi.
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“Quando soube,vivi um misto de sensações,fiquei emocionada,chorei muito. Passou um filme na cabeça,de lembrar dos momentos difíceis de atuação do processo,de quando eu assumi o caso,das dificuldades,do tempo que a gente aguarda as notícias…”,relembra a criminalista,que está ao lado dos Gagliasso desde 2020.
O episódio de racismo ocorreu quando Títi tinha apenas quatro anos,em 2017. À época,o caso causou revolta contra as ofensas proferidas por Day nas mídias sociais. A denúncia formal foi apresentada em maio de 2021.
Além da atuação neste caso,Juliana também é mestra em Direitos Fundamentais e autora do livro "Torrente Ancestral,Vidas Negras Importam?" (2023),e influenciadora,acumulando 160 mil seguidores nas redes sociais. Um mês após o feito histórico não só para sua carreira,mas para todo o país,a advogada,de 33 anos,nascida em Feira de Santana,na Bahia,avalia,em entrevista exclusiva à ELA,a evolução da luta antirracista e detalha sua história de vida. Confira!
Desde que assumi o caso,em 2020,tem sido uma luta,uma batalha. Sobre o caso específico,não posso falar porque corre em segredo de Justiça,até por envolver o interesse de crianças. Temos construído esse trabalho numa perspectiva para além da ação,já que fui essa criança negra que sofreu racismo. Também trago essa perspectiva para além dos meus estudos,da minha especialização,é minha vivência,essa é a missão na minha vida. É sobre perspectivas. Tivemos uma decisão histórica que eu me orgulho.
Minha mãe é uma sobrevivente de violência doméstica; por isso,quando eu tinha 1 ano e três meses,fomos morar em Osasco,no extremo oeste da grande São Paulo. Por muito tempo,vivemos escondidas,com medo do meu pai aparecer,porque ele dizia que se nos encontrasse,mataria a minha mãe e eu. Quando chegamos,boa parte da minha família já morava em São Paulo,fui criada por minha mãe,Tercília Conceição e minhas tias,Lurdes,Joana,Neusa,por isso digo que sou filha orgulhosa de uma dinastia de trabalhadoras domésticas.
As questões acadêmicas sobre raça não chegaram lá na favela onde eu morava,mas estiveram sempre muito presentes,mesmo que não de maneira verbalizada ou consciente.
Só começo a pensar o racismo de forma mais crítica no momento que entro na faculdade e entendo tudo que fiz para entrar,me manter e sair de lá.
Sinto que temos avanços e retrocessos em relação à equidade de gênero e de raça,mas não tem nada conquistado,é uma busca constante,que deve ser cada vez mais um compromisso de todas as pessoas,não só de pessoas negras.
A 'Desvelando oris' surge,em 2022,com o objetivo de ampliar o trabalho que a gente já fazia na pessoa física,no Terceiro Setor. Desvelar significa apresentar e enxergar e Orí é uma palavra africana da língua yorubá que significa cabeça,então a gente fala de um processo de tomada de consciência sobre si,sobre seus direitos,sobre seu entorno,sobre sonhos,sobre possibilidade. A gente busca construir esse trabalho convidando as pessoas em situações de vulnerabilidade a estarem na centralidade por meio dos programas e projetos que a gente faz.
A gente tem que pensar na forma como a lei é feita. Precisamos estar presentes nesse espaço,enegrecer como a gente lida e constrói a Justiça no Brasil. Seja com corpos,seja com o nosso intelecto,sobre como a gente produz. A gente precisa formar quem já está lá e essa é uma formação constante,porque o racismo é um fenômeno constante que emoldura as nossas estruturas sociais,por isso o pensamento em prol da construção de novas práticas precisa ser constante também.
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