Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) durante debate da Band — Foto: Renato Pizzutto/Band RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) durante debate da Band — Foto: Renato Pizzutto/Band
GERADO EM: 20/10/2024 - 00:00
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Na quinta-feira,Ricardo Nunes deu uma desculpa esfarrapada para faltar a mais um debate em São Paulo. Na ausência do prefeito,Guilherme Boulos concedeu uma entrevista. A conversa revisitou temas como o apagão e as pesquisas eleitorais. Na passagem mais reveladora,o candidato ensaiou uma autocrítica sobre as dificuldades da esquerda nas urnas.
Boulos disse que a votação de Pablo Marçal “acendeu um alerta” no campo progressista. “Tivemos a compreensão e a humildade de fazer um mea-culpa e uma autocrítica. Nós não dialogamos com um setor importante dos trabalhadores”,afirmou ao consórcio Folha/UOL/RedeTV!.
O candidato admitiu que a esquerda “deixou de falar” com eleitores que desistiram do emprego formal para “buscar sua prosperidade de outra forma,por conta própria”. “Na ausência de diálogo com este segmento,a extrema direita ocupou o espaço”,constatou.
O diagnóstico de Boulos está correto,mas parece atrasado. O fenômeno que ele descreve já atropela seu grupo político há pelo menos três eleições paulistanas. Despontou em 2016,quando o empresário João Doria,dono da revista “Caviar Lifestyle”,apresentou-se como “João Trabalhador”. Ele venceu no primeiro turno,triunfando em redutos tradicionais do PT.
No ano seguinte,a Fundação Perseu Abramo apresentou a pesquisa “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo”. O documento alertou os petistas para uma transformação em sua base social. Os trabalhadores haviam comprado a “ideologia do mérito” e a teologia da prosperidade,propagada por pastores evangélicos. Passavam a ver o Estado como inimigo e o esforço individual como único caminho para melhorar de vida.
“No imaginário da população não há luta de classes”,anotaram os pesquisadores. “Para os entrevistados,o principal confronto existente na sociedade não é entre ricos e pobres,capital e trabalho. O grande confronto se dá entre Estado e cidadãos”,escreveram.
O estudo mostrou que a pregação liberal havia seduzido trabalhadores autônomos ou precários,que passavam a se identificar como empreendedores: “Muitos assumem o discurso propagado pela elite e pelas classes médias apontando a burocracia e os altos impostos como empecilhos ao empreendedorismo”.
Movidos pelo sonho de enriquecer,moradores da periferia passavam a se guiar por uma lógica individualista,que liga a ascensão social à disciplina e à força de vontade. “A noção de público é menos associada àquilo que pertence a todos e mais com o que é gratuito e de má qualidade”,afirmou o estudo da Perseu Abramo.
O texto terminou com uma sugestão que parece não ter sido levada a sério: sem abrir mão de seus valores,a esquerda precisava “produzir narrativas mais consistentes e menos maniqueístas ou pejorativas” sobre temas como família,religião e segurança.
A pesquisa de 2017 ajuda a entender a eleição de 2024,quando um aventureiro que demoniza o Estado e vende cursos sobre a “arte de prosperar” faturou 28% dos votos. É improvável que Boulos consiga se aproximar dos eleitores do coach com promessas de última hora,como a isenção de rodízio para motoristas de aplicativo.
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