CULTURA Oct 23, 2024 IDOPRESS

Na reta final da campanha nos EUA, Trump eleva o tom das ameaças à imprensa

Ex-presidente dos EUA,Donald Trump,durante comício na Pensilvânia — Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP

Ex-presidente dos EUA,Donald Trump,durante comício na Pensilvânia — Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 23/10/2024 - 04:30

Trump intensifica ameaças à imprensa nos EUA.

Na reta final da campanha nos EUA,Trump intensifica ameaças à imprensa,sugerindo retirar licenças de emissoras. Seu histórico de ataques a veículos jornalísticos gera perplexidade. Mesmo com críticas à CBS e a Kamala,especialistas questionam a veracidade de suas alegações. Possível impacto de indicados por Trump na FCC preocupa democratas. A liberdade de imprensa em jogo diante das ameaças do ex-presidente.

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Ameaçar veículos de imprensa não é algo novo para o ex-presidente Donald Trump. Ele acusou os meios de difamação,vetou profissionais em eventos de campanha e da Casa Branca,incitou seus apoiadores a ataques profanos à CNN e popularizou o termo “fake news”,as “notícias falsas”,agora usadas por autocratas mundo afora.

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Mesmo usando esses parâmetros,sua mais recente obsessão contra a imprensa — como retirar das emissoras suas permissões para divulgar notícias porque ele não gosta da cobertura — chama a atenção.

“A CBS deve perder sua licença”,escreveu Trump em sua conta na plataforma Truth Social,na semana passada. “O 60 Minutes (conhecido programa de entrevistas e reportagens) deve sair do ar imediatamente.”

Ele citou a demanda em discursos e entrevistas — anteriormente,havia pedido que a ABC perdesse a licença porque não gostou da forma como a rede conduziu o debate contra sua rival democrata,a vice-presidente Kamala Harris.

No domingo,Trump elevou o tom de suas ameaças à CBS.

— Vamos exigir a apreensão de documentos — disse em entrevista à Fox News,repetindo suas alegações de que a recente aparição de Kamala no “60 Minutes” enganou os eleitores. Ao ser questionado se a revogação da licença não seria uma “punição drástica”,evitou responder diretamente,e preferiu lançar insultos à vice-presidente,chamada por ele de “incompetente” e “marxista”.

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Na fatídica entrevista ao “60 Minutes”,exibida no dia 7,Kamala foi perguntada sobre a guerra no Oriente Médio. Em um trecho divulgado na véspera,ela deu uma resposta longa; no episódio que foi ao ar,pareceu dar uma resposta diferente e mais sucinta. Trump,que tinha questões com a CBS antes do programa com Kamala,e que se recusou a conceder uma entrevista à rede,disse que a edição foi feita para favorecer a democrata.

A CBS disse no domingo que “duas respostas” foram tiradas de diferentes trechos da fala da democrata à questão,e que a acusação feita por Trump é “falsa”.

A edição foi considerada questionável por executivos de concorrentes,mas sem violar os padrões jornalísticos das TVs americanas,e especialistas disseram que as críticas de Trump não procedem. Mas um integrante da Comissão Federal de Comunicações (FCC),principal agência do setor nos EUA,pareceu receptivo à ideia de que a forma como a CBS tratou a entrevista pode ter violado normas federais.

“Interessante. Importante,se for verdade”,o comissário,Nathan Simington,escreveu no X. Trump publicou uma captura da tela do comentário e publicou no Truth Social.

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Redes como a ABC,CBS e a NBC não dependem de uma licença para produzir ou publicar conteúdo jornalístico,mas as emissoras locais que transmitem seus sinais precisam da autorização,que é emitida pela FCC,uma agência independente da Casa Branca.

Um presidente americano não pode simplesmente determinar a revogação da licença,mas ele indica os membros da comissão,formada por cinco pessoas. Simington é um dos dois republicanos da FCC indicados por Trump. O outro é Brendan Carr,que já demonstrou apreço por Elon Musk,um dos maiores apoiadores de Trump e dono do X,a única grande rede social que não foi atacada pelo ex-presidente nas últimas semanas.

Simington e Carr,que não responderam aos pedidos de entrevista no domingo,podem permanecer em seus cargos caso Trump seja eleito. Se o Senado retornar ao controle republicano,aprovará qualquer pessoa que ele escolher para a agência. E com uma maioria de 3 a 2,os indicados do ex-presidente poderão revogar qualquer licença que quiserem.

Este cenário depende de muitas variáveis,a começar por uma vitória do republicano sobre Kamala Harris daqui a duas semanas. Também dependeria da comissão ignorar décadas de precedentes e rejeitar normas que garantem proteção às organizações de notícias. Mesmo assim,o caminho para acionar a bizantina máquina regulatória defendida por Trump,apesar de estreito,existe.

“Essas ameaças contra a liberdade de expressão são sérias e não devem ser ignoradas”,afirmou,em comunicado,a atual presidente da FCC,Jessica Rosenworcel. “A FCC não revoga e não revoga licenças para emissoras simplesmente porque um candidato a um cargo político discorda ou não gosta de um conteúdo ou cobertura.”

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Tom Wheeler,presidente democrata da FCC entre 2013 e 2017,disse em entrevista que as ameaças de Trump podem levar a um “efeito sombrio” sobre o processo de tomada de decisão editorial das empresas de comunicação.

— É difícil revogar uma licença,e é particularmente difícil revogar uma licença por ordem do presidente dos EUA — afirmou. — Mas não é difícil que um pedido desses impacte a tomada de decisões. Eu não sentiria inveja do cargo de um presidente da FCC em um governo Trump.

Durante a campanha de 2016,Trump prometeu barrar a aquisição pela AT&T da Time Warner,dona da CNN,uma rede que é alvo frequente de seus ataques. Quando era presidente,a divisão antitruste do Departamento de Justiça entrou com uma ação para impedir a compra,mas o governo foi derrotado nos tribunais.

Recentemente,ele tem criticado com frequência a Comcast,empresa que controla a NBCUniversal e a MSNBC,e atacou seu presidente,Brian Roberts,por causa da cobertura. Segundo rumores,a Comcast considera uma negociação envolvendo a NBCUniversal,mas nada de concreto foi anunciado.

Por causa de sua tendência ao exagero,e seu histórico de empregar uma retórica que nem sempre corresponde à realidade,é difícil prever como Trump lidaria com esses temas caso retorne à Casa Branca.

Apesar do tom dos ataques,redes de TV americanas e empresas jornalísticas passaram relativamente intactas pela presidência de Trump. A mais prejudicada pelas falas do republicano foi a Fox News,que foi condenada a pagar US$ 787,7 milhões em uma ação de difamação movida com base nas alegações infundadas de fraude relacionadas à eleição de 2020.

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Na semana passada,Trump incluiu a rede,que abriga muitos de seus apoiadores,na lista de críticas. Segundo ele,a empresa estava levando ao ar muitos “lunáticos radicais de esquerda”,e disse que planejava um encontro com Rupert Murdoch,dono da empresa,para exigir que parasse de exibir “comerciais negativos” sobre sua campanha.

Nada disso impediu que Trump concedesse uma entrevista,exibida no domingo,ao apresentador da Fox News Howard Kurtz. Na conversa,o republicano disse que o New York Times era “corrupto”,e sugeriu,de forma vaga,que “provavelmente o processaria em algum momento”. Ele não mencionou qual cobertura específica o incomodou.

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Mesmo as ameaças sobre as licenças de transmissão não são novas. Em 2017,sugeriu que poderia retirar as permissões da NBC depois da exibição de uma matéria sobre armas nucleares que o incomodou. Na época,Trump atacou o então chefe da FCC,Ajit V. Pai,que afirmou que a agência “não tem a autoridade para revogar a licença de uma emissora com base no conteúdo de um material jornalístico específico” — o presidente da agência completou afirmando ainda que “a FCC,sob sua liderança,defenderia a Primeira Emenda” da Constituição,que trata da liberdade de expressão.

Trump não tomou medidas adicionais. Ajit Pai,um republicano indicado à FCC pelo democrata Barack Obama,permaneceu no posto até o final do governo Trump.

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