Trump ergue o punho logo após ser baleado durante comício na Pensilvânia — Foto: Rebecca Droke/AFP
Trump ergue o punho logo após ser baleado durante comício na Pensilvânia — Foto: Rebecca Droke/AFP
GERADO EM: 18/07/2024 - 04:30
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Quando era adolescente no Queens,uma das cinco regiões metropolitanas de Nova York,Donald Trump andava de metrô para ir à escola. Esses tempos,no entanto,ficaram em um passado distante do fim dos anos 1950 e começo dos 1960. A partir dos anos 1970,passou a se tornar um ícone da riqueza cafona emergente de relógios brilhantes,fofocas em tabloides,cassinos e limousines com motoristas. Visto como uma caricatura pela elite tradicional e progressista de Manhattan,ele incorporou essa imagem e decidiu mostrar que,mesmo sendo um herdeiro de um novo rico do Queens,podia erguer seu "castelo" no coração da Quinta Avenida com o nome de Trump Tower.
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Ao ver a entrada de Trump na arena do time de basquete do Bucks em Milwaukee para a Convenção Republicana,lembrei desse histórico e de seu castelo de vidro em Manhattan. Chegava naquele momento uma espécie de rei para uma parcela da população americana. Falta a coroa,mas todo o seu comportamento remonta a uma realeza de filmes da Disney ou de séries como Game of Thrones. Ao redor dele,ficam seus áulicos. Quando chega,o ex-presidente acena a seus delegados,que seriam os súditos,na quadra. Senta-se em uma poltrona branca,que seria uma espécie de trono. Quando todos se levantam para aplaudir alguém discursando,Trump age de forma diversa. Em alguns casos,espera segundos e se levanta. Pode ser que bata palmas ou apenas observe. Em outros,prefere ficar sentado,mesmo quando elogiado.
Após sobreviver por milímetros a uma tentativa de assassinato,Trump se tornou para seus súditos uma figura messiânica. O trumpismo já era uma espécie de peronismo,com todo o partido se transformando em um movimento populista ao redor de um líder carismático. Agora,passou a ter contornos religiosos para seus seguidores. Eles amam Trump. Consideram-no um semideus. Há uma certeza de que ocorreu uma intervenção divina para salvá-lo no sábado passado.
George Washington,Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt são admirados pela importância de cada um deles na História americana. Todos desfrutam de respeito de democratas e republicanos. Barack Obama e Ronald Reagan tinham fãs. Mas Trump é diferente. O candidato republicano conta com devotos.
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Ao mesmo tempo,essa figura santificada pelos republicanos é vista como demoníaca por uma outra gigantesca parcela dos americanos. Seria o símbolo do mal. Um homem disposto a ser um déspota. O rei maligno dos filmes que precisa ser derrotado de qualquer maneira ou será o fim da democracia dos EUA.
Caso Trump seja vencedor nas eleições em novembro,seus seguidores tendem a celebrar como uma vitória religiosa,não política. Ao mesmo tempo,os opositores tendem a encarar como um apocalipse final para a democracia dos EUA,construída por gênios como Benjamin Franklin,Thomas Jefferson,que será mais uma vez dominada por um criminoso antidemocrático com tendências despóticas.
Essa é a dimensão do que está em jogo agora. Para enfrentar essa batalha,os democratas seguem incertos sobre a permanência ou não de um fragilizado Joe Biden. Pelo visto,a vitória será dos devotos.
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