Sandra Ramalhoso,que foi diagnosticada com poliomielite aos três meses de vida — Foto: Edilson Dantas
Sandra Ramalhoso,que foi diagnosticada com poliomielite aos três meses de vida — Foto: Edilson Dantas
GERADO EM: 05/08/2024 - 04:30
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Diagnosticada com poliomielite aos três meses de vida,Sandra Ramalhoso passou a infância sem conseguir mover nenhuma parte do corpo do pescoço para baixo. A paulista,hoje com 60 anos,enfrentou inúmeras cirurgias e sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos. Ela não teve chance de tomar a vacina,pois quando foi levada pela mãe,já estava com febre e no início da doença.
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— Demoraram muito para fazer o diagnóstico,achavam que era gripe. A pólio me deixou sequelas muito graves. Tive que fazer muito tratamento para voltar a andar e,mesmo assim,precisava de muletas e próteses — lembra Ramalhoso,professora de piano.
A evolução de 15 anos de terapia foi perdida após a gestação do segundo filho,quando ela voltou a ter as pernas paralisadas,sintomas da síndrome pós-poliomielite,uma degeneração dos neurônios motores que afeta pessoas que tiveram a doença. Desde então,Sandra usa cadeira de rodas.
— Não é fácil. Você luta muito para ter independência e autonomia,aí,no auge da sua vida,vai para cadeira de rodas e pensa: tudo o que eu fazia,não posso fazer mais… acabamos nos adaptando,deixei de fazer algumas coisas,mas faço outras. Agora me dedico à luta pelo direito das pessoas com deficiência — diz.
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A aposentada Izabel Maria Cirella,65,também foi afetada pela síndrome pós-pólio. Ela contraiu poliomielite com um ano e meio. Embora houvesse vacina,ela não pôde tomá-la por ter outras doenças.
— Eu só podia tomar a vacina com um atestado médico,mas nunca consegui esse atestado — relata.
A doença afetou gravemente seu corpo,incluindo os pulmões,e ela precisou passar 10 dias em um pulmão de aço para voltar a respirar. Apesar dos prognósticos negativos,Izabel passou por fisioterapia intensiva,aprendeu a falar e,aos seis anos,fez sua primeira cirurgia corretiva nas pernas. Com o auxílio de muletas,conseguiu ir para a escola,apesar da resistência inicial da diretora em aceitá-la.
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— Passei por muitas dificuldades na escola,não podia sair da sala de aula nos intervalos e minha mãe ia até lá só para me alimentar. Com muito esforço,consegui me formar e passei em um concurso público.
Há dez anos ela passou das muletas para a cadeira de rodas após quebrar um joelho.
— Quem ama,vacina. A pólio limita muito. Essa geração que não está vacinando é a que não nos viu na rua. Não sabem o que é polio,como ela impacta nossas vidas.
Risco de retorno
Apesar de ter sido considerada erradicada no país há duas décadas,a poliomielite ainda preocupa os especialistas. Sobretudo pela cobertura vacinal de muitos estados estar abaixo da meta do Ministério da Saúde de 95% desde 2016.
— É real a possibilidade de a poliomielite voltar a circular. À medida em que você vai vacinando menos,você acumula um número de crianças não vacinadas e suscetíveis. O vírus ainda circula em outros países,e aí basta alguém contaminado vir para o Brasil para infectar essas crianças. Em 2018,o sarampo voltou a circular e estamos lutando para que volte a ser eliminado — diz o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI),Renato Kfouri.
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Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),o número de crianças vacinadas contra o vírus no Brasil melhorou em 2023,em comparação ao ano anterior: 84,63% das crianças com menos de um ano receberam a vacina,ante 77% em 2022.
Para Kfouri,aumentar as coberturas vacinais no país é importante,mas essa expansão deve ocorrer de forma equitativa entre as regiões,com o envolvimento de todos os estados.
— Não basta a cobertura vacinal ser elevada,ela precisa ser homogênea — diz.
O infectologista destaca a baixa percepção dos riscos das doenças imunopreveníveis,o receio de reações adversas e a politização do tema como alguns dos fatores que afastaram as pessoas da vacinação.
O diagnóstico de meningite B veio para o pequeno João Marcos Silva quatro dias antes de ele poder tomar a vacina,com 56 dias de vida. João precisou enfrentar 102 dias na UTI.
— Eu e meu esposo ficamos sem chão,desesperados… Não sabíamos o que realmente era a meningite,o que ela poderia causar e muito menos como preveni-la. Em menos de 48 horas,após o primeiro sintoma,João Marcos chegou a ter 1% de chance de sobreviver. Sentíamos como se estivéssemos perdendo-o — diz a mãe Suelen Caroline Rosalino,empresária.
João precisou amputar a perna esquerda,metade e a sola do pé direito,além de oito falanges das mãos. Ele também sofreu uma lesão no lóbulo frontal direito. Após passar mais de três meses no hospital com o filho,Suelen faz de tudo para que o menino,hoje com seis anos,possa ter uma infância normal.
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Com próteses,João joga futebol e até toca bateria.
— Como tudo aconteceu com ele bem novinho,ele cresceu superando e se adaptando mediante as suas necessidades. Aprendemos que precisamos focar no potencial e não nas limitações,então em meio aos tratamentos diversos,como fisioterapia,fono,terapia ocupacional e até mesmo na escola,o ensinamos sempre a dar seu melhor — conta.
A meningite meningocócica B é uma inflamação das meninges,membranas que envolvem o sistema nervoso,causada pelo meningococo B (MenB),um dos principais agentes da meningite bacteriana. O tipo B é considerado um dos mais letais da doença,com dois em cada dez casos resultando em morte,e representa entre 20% e 40% das meningites. A vacina é indicada a partir dos dois meses.
Os pais decidiram fundar a Associação Brasileira de Combate à Meningite (ABCM) para conscientizar famílias sobre a doença e incentivar a vacinação.
‘Como teria sido’
Lúcio Teixeira e dois dos seus cinco irmãos tiveram meningite na infância,nos anos 1970. Moradores de área rural de Luziânia,em Goiás,não tiveram acesso a serviços básicos nem à vacina contra a doença,em desenvolvimento na época. Dos três irmãos infectados,Lúcio foi o único sobrevivente,mas precisa conviver no dia a dia com as sequelas da doença que o atingiu aos quatro anos: perdeu o braço esquerdo e ficou com danos cerebrais permanentes.
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Aos 57 anos,aposentado por invalidez,Lúcio passa o tempo lembrando da infância e imagina como seria sua vida sem os problemas acarretados pela meningite:
— Deixei de fazer bastante coisa por conta das limitações. Queria ter saído da casa da minha mãe,aprendido a dirigir,ter conquistado muito mais coisas. Mas não consegui (...) é claro,penso sempre como teria sido se eu tivesse me vacinado.
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