Urna eletrônica na Firjan/Senai,em Benfica,Rio de Janeiro — Foto: Custódio Coimbra/Agência O Globo
Urna eletrônica na Firjan/Senai,em Benfica,Rio de Janeiro — Foto: Custódio Coimbra/Agência O Globo
GERADO EM: 20/10/2024 - 04:30
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A derrota da esquerda nas eleições ficará mais evidente caso se confirme o cenário mais provável em São Paulo,que é a vitória do atual prefeito. A cidade tem tamanho e relevância para separar derrotados de vencedores. Mas o entendimento dessa derrota talvez se perca nos clichês de sempre. Um deles é o de que o PT não teria entendido o impulso ao empreendedorismo que atraiu os eleitores de Pablo Marçal. Há alguns erros nessa ideia. A lei do Microempreendedor Individual (MEI) foi criada por Lula no seu segundo mandato. O que levou eleitores a Marçal ainda nem foi entendido,e não pode ser simplificado.
O mercado de trabalho brasileiro historicamente teve altos níveis de informalidade,portanto o sindicalismo — que produziu uma força política de esquerda — sempre falou com apenas uma parte dos trabalhadores. A precarização do trabalho não nasceu com a uberização. Sempre houve precarizados no Brasil. Nos momentos de grande desemprego,viraram trabalhadores por conta própria. Alguns viram a chance de realização de velhos sonhos e tiveram sucesso. Outros permaneceram em situação precária. Não é um fenômeno novo na economia,e para ele,o PT até deu uma resposta.
A lei do MEI é de 2008. Em 2013,havia 13,5 trabalhadores na CLT para cada MEI. Hoje são 2,4 trabalhadores com CLT para cada microempreendedor. Esses números indicam que sim,o projeto de dar formalidade aos trabalhadores individuais funcionou. Eles pagam apenas 6% de encargo social e isso aponta para outros problemas,como a queda do financiamento da previdência.
Aqui o ponto é político. A ideia de que a esquerda não consegue falar com os novos empreendedores tem fundamento? Talvez. Contudo,o que aconteceu nessa eleição pode ter outra natureza. A montanha de votos que teve Pablo Marçal mostra que o fenômeno precisa ser estudado,mas o que ele vendia não era a prosperidade viável através do empreendedorismo. Era a ilusão de um milagre a ser feito com truques e golpes. O enganador sempre foi muito atraente.
A eleição municipal ainda nem terminou e já mostrou que sua análise é um imenso desafio. Se está claro que o PT teve um desempenho pífio,o vencedor está menos evidente. O PSD é apontado como grande vitorioso. Perguntei a Gilberto Kassab como o partido faria para atrair a esquerda em Curitiba e em Belo Horizonte,cidades nas quais está traçando armas com candidatos bolsonaristas.
— Acho que mais do que a esquerda,o PSD está conseguindo conquistar o centro. As candidaturas opostas às nossas são de direita,têm o nosso respeito,mas vamos ganhar porque os eleitores de centro em Curitiba e em Belo Horizonte querem moderação e são o que o Eduardo ( Pimentel) e o Fuad (Noman) representam.
Kassab explicou a métrica que usa para concluir que o centro venceu.
—Comparando os votos que tiveram PSD,MDB e União Brasil verá que a somatória de votos para prefeito no primeiro turno é bem maior do que os votos da direita,que são PL,o PP e o Republicanos,ou da esquerda,com PT,PSOL,PDT e PSB.
Só que,em São Paulo,o candidato do MDB,apoiado pelo PSD,tem como grande defensor o governador do Republicanos,Tarcísio de Freitas,que diz que seu líder é Jair Bolsonaro,do PL. Quando perguntei sobre essa contradição,Kassab respondeu que não há contradição,que o nome disso é “composição”.
Na verdade,o que não falta nessa eleição é contradição. O PDT do Ceará fortalecer,por ação ou omissão,o candidato bolsonarista,em vez de apoiar o PT é total incoerência. Em Fortaleza,o campo progressista unido faria a diferença. Pelo Datafolha,André Fernandes,do PL,está com 45% e Evandro Leitão,do PT,com 43%. Na Quaest é empate numérico: 43% a 43%.
Se existem nuances na vitória,é certo que o partido que está no governo federal conseguiu apenas magros resultados no país,e precisa se repensar sim,de preferência fugindo das explicações fáceis.
Uma parte do PT sempre defendeu o aumento de gastos públicos para levar o país ao crescimento acelerado e às vitórias políticas. É nesse ponto que mora o perigo. Isso foi usado pelo partido no passado e acabou em inflação,recessão e derrota. Portanto,antes que voltem a essa confusão,o que ocorre recorrentemente,é bom lembrar que a atual política econômica trouxe o país a um crescimento mais forte do que o previsto,com desemprego baixo e inflação relativamente baixa. Não é culpa da economia.
(Com Ana Carolina Diniz)
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