Vivian Geraissate: autocuidado na diantera das decisões — Foto: Egberto Nogueira/Imã Fotografia RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Vivian Geraissate: autocuidado na diantera das decisões — Foto: Egberto Nogueira/Imã Fotografia
GERADO EM: 24/11/2024 - 16:04
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A administradora Vivian Geraissate,de 38 anos,teve dificuldade em lidar com olhares indiscretos ao perder os cabelos em seu primeiro tratamento para um câncer de mama,há dez anos — a doença ainda faria outro aparecimento mais recentemente. Os questionamentos e olhares de pessoas da rua causaram desconforto a alguém que até aquele momento estava bastante segura com sua imagem e visual.
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Na intimidade,os efeitos do tratamento eram ainda mais intensos: Vivian precisou passar por mastectomia (as retiradas das mamas),hoje reconstruídas,e fez bloqueios hormonais,o que a colocou em estado de menopausa ainda nas primeiras décadas da vida. O sexo,é evidente,ficou afetado.
— Eu me escondia muito mais,tirava menos o sutiã. Nem mesmo pensava em levantar da cama e ir tomar banho sem me cobrir. Até aquele momento,sempre me senti livre,mas depois perdi isso. Nas duas “quimios” engordei bastante,passei a não aceitar meu corpo. Foi um tabu para mim. Calculava tudo que ia fazer — afirma.
Com o tempo,Vivian se viu solteira,experimentou encontrar novas pessoas e hoje está atenta às próprias vontades e conforto. Tanto no sexo quanto em diversas experiências na vida a dois.
— Hoje falo mais abertamente sobre os diagnósticos que tive e sobre meus seios. Esse é meu corpo de agora,fiz essa descoberta — conta.
A jornada de Vivian está de mãos dadas com uma importante preocupação que começa a aparecer em consultórios de oncologia: como será a relação do paciente com o sexo uma vez que ele passará por um tratamento que pode comprometer a prática? Especialistas ouvidos pelo GLOBO são categóricos ao afirmar que é preciso que a discussão sobre libido,prazer e intimidade faça parte do tratamento. Desde que,é claro,o paciente se sinta confortável em falar sobre o tema.
—Pacientes oncológicos podem ter sua vida sexual alterada por diversos motivos. Existe o impacto emocional do diagnóstico,o aspecto físico que pode ser preocupação com autoimagem ou desempenho sexual. E também questões do próprio relacionamento com o parceiro,que pode ser falta de diálogo a respeito do assunto,medo de causar desconforto ou receio de agravar a doença — afirma Ariel Kann,do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Oswaldo Cruz — Há ainda efeitos colaterais de tratamentos como cirurgias,quimioterapia,radioterapia que podem causar disfunção erétil,dor ou desconforto na relação. Outra causa frequente são as alterações hormonais.
Clarissa Mathias,oncologista da Oncoclínicas,afirma que a forma de se aproximar do paciente para falar sobre o assunto varia a cada quadro e que é preciso respeitar a forma como cada um reage em relação ao tema. Mesmo que a decisão seja não manter relações sexuais ao longo do período de tratamento.
— Cada pessoa terá seu olhar,uma abordagem mais celibatária (caso a pessoa queira assim) não é um problema. O sexo não é mandatório,mas é importante olhar o paciente como um todo. E esse aspecto é importante,assim como devemos levar em consideração a religião de quem estamos cuidando — conta.
Embora quem está sob os cuidados médicos possa recusar o assunto ou sentir-se desconfortável em um primeiro momento,em geral os especialistas acreditam que,conforme o tratamento avance,o assunto em algum momento chegue às consultas.
— A pessoa pode estar,inicialmente,mais preocupada em sobreviver. Há assuntos outros que podem ficar para uma segunda etapa. Mas em algum momento a conversa sobre sexo virá a tona,por que essa prática tem a ver,para muitas pessoas,com o que significa ter qualidade de vida — Vera Bifulco,psico-oncologista do Instituto Lado a Lado pela Vida.
A professora de inglês Patricia Almeida,de 50 anos,também passou por indução à menopausa por conta de um tratamento de câncer de mama. Com a mudança,notou a falta de libido. A reposição hormonal,controlada e com acompanhamento médico,foi o caminho que encontrou para sentir-se novamente interessada a viver sua intimidade.
— Precisamos de apoio psicológico também. É um turbilhão de emoções,entre elas você quer ter vontade (de ter relações),mas não tem. Ao namorar,há o pensamento se seu parceiro vai reparar o que está diferente. O companheiro,por sua vez,precisa entender que as coisas mudaram,tem que ser conversado entre o casal,e pedir um tempo de compreensão — conta. — A gente acha que a vida vai voltar ao normal como era antes do diagnóstico,mas nunca volta. O pensamento é diferente,o corpo,e a saúde é diferente. Em primeiro lugar eu queria tudo como antes,mas confesso que minha vida sexual melhorou muito. Nessa busca por conforto e qualidade,descobri mais coisas sobre mim.
O oncologista do Hospital Nove de Julho Marcelo Aisen diz que uma vez estabelecida a conexão é possível sugerir aos pacientes sobre alternativas viáveis para quem se encontra em meio ao tratamento,de maneira prática e sem tabus. Além disso,a indicação de exercícios físicos regulares ajuda (e muito) a lidar com o cenário.
— A mulher,por exemplo,não precisa ter desejo para ter prazer. Por meio de carinhos e carícias,é possível que a mulher chegue ao orgasmo mesmo sem a libido. O que é diferente para homens. Ainda é preciso dizer que o número de próteses penianas é muito pequeno (em comparação aos tratamentos de câncer),pode haver muitos homens sofrendo sem saber que pode dar e sentir prazer — explica. — O carinho,afeto,são muito importantes. Esses são os companheirismos verdadeiros. É possível ter preliminares,opções de ter e dar prazer,sem se sentir usado ou desconfortável.
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