Thix em seu ateliê,no Humaitá,onde passa até dez horas pintando — Foto: Ana Branco RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Thix em seu ateliê,no Humaitá,onde passa até dez horas pintando — Foto: Ana Branco
GERADO EM: 21/11/2024 - 12:25
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Em uma das mais recentes obras de Thix,a artista aparece em um autorretrato,com ar altivo,ostentando cabelos longos e batom vermelho,enquanto segura a sua “cabeça antiga”,masculina. “Estou falando da minha própria história”,diz,em seu novo ateliê,Zona Sul do Rio. “A minha arte foi a linguagem que me pariu. Eu me entendi como pessoa trans e assumi esse nome a partir do fazer artístico.”
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A obra,inspirada em “Judite com a cabeça de Holofernes”,do pintor italiano Cristófano Allori (1577-1621),será exibida na primeira individual da artista,“Réquiem para um nome”,que entra em cartaz no próximo dia 28,na Gávea. A mostra é como um portal de acesso ao universo de Thix,nascida em Porto Alegre e radicada no Rio,onde mora há 20 anos.
Tela representa o rompimento com o masculino na vida da artista — Foto: Ana Branco
Assim como Judite decapitou um general assírio para proteger sua cidade na história do Antigo Testamento,a pintora mostra,na releitura,o ímpeto de defender as próprias convicções e seus semelhantes. “É uma narrativa que fala sobre uma mudança de poder,uma mulher libertando o povo dela da presença e da força masculina de um ditador.”
E como ela não anda só,a individual reúne outros corpos queer pintados à maneira dos grandes mestres do período clássico,em cerca de 30 telas. Na montagem,aparecem dispostas lado a lado,como nos salões de uma pinacoteca dos séculos XVIII e XIX,onde essas pessoas não estavam representadas. “Tem um sentido de resgate e reparação de uma história deixada de fora”,comenta a artista,que adquiriu molduras em leilões para sublinhar a nobreza evocada nas pinturas. “O retrato a óleo tem essa mística do tempo e da presença,já que demora para ser feito. O público entende o quanto aquela pessoa merece ser vista.”
Montagem da mostra evoca salões de uma pinacoteca do século XVIII — Foto: Ana Branco
Aos 42 anos,Thix,que começou a vida profissional como designer gráfica,produz as telas munida de uma precisão técnica perseguida desde que migrou para as artes visuais. Estudou na Florence Academy of Art,na Itália,para onde se mudou em 2017,e na Barcelona Academy of Art,na Espanha,na sequência. Mais recentemente,foi selecionada para a Residência Artística FAAP,do Centro Universitário Armando Alvares Penteado,em São Paulo.
A produção da artista começou a correr galerias e feiras há cerca de dois anos e uma das telas acaba de entrar para o acervo do Museu de Arte do Rio. Para a primeira individual,ostenta uma disposição digna de “atleta de alto rendimento”,em sua rotina no ateliê. “Passo cerca de dez horas por dia pintando. Então,os trabalhos ficam prontos em uma semana,aproximadamente.”
Artista estudou técnicas de pintura na Itália e em Barcelona — Foto: Ana Branco
Antes das pinceladas,ela se encontra pessoalmente com os modelos e os fotografa em diferentes ângulos,como num scanner. “Só peço que se vistam de uma forma glamourosa ou com algo que melhor os representem”,conta.
Jornalista e pessoa não-binária,Mar Bastos aparece em uma das telas e afirma que a abordagem de Thix rompe com comportamentos naturalizados nas interações entre artistas e modelos ao longo de muitos anos. “Não estamos na posição de objetificação,mas de reconhecimento”,afirma. “No meu caso,tinha acabado de perder meu pai e há muita fidelidade a este momento. Estou de preto,com um olhar meio perdido,diferentemente de pessoas que aparecem mais exuberantes.”
Curadora da exposição ao lado de Maíra Marques,com quem forma o Instituto Comadre,Gabriela Davies acrescenta que,ao pintar pessoas queer com a precisão de cânones do período clássico,a artista “subverte a própria academia”. “A cada retrato,Thix faz um cruzamento da história da arte com a cena contemporânea,de forma muito rica”,diz. “Ao fazer isso de maneira tão honrosa,demonstra também um gesto político forte.”
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