Vista aérea do Congresso Nacional. Ao fundo a Esplanada dos Ministérios — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Vista aérea do Congresso Nacional. Ao fundo a Esplanada dos Ministérios — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Para além das questões cotidianas,de vez em quando me pergunto onde estamos e para onde vamos. E aproveito grande parte do tempo livre para ler sobre o assunto. No momento,leio Peter Turchin,que escreveu um livro chamado “Fim dos tempos: elites,contraelites e o caminho da desintegração política”.
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Ufa,só o título já consome parte da energia do leitor. Ele trabalha com uma equipe investigando inúmeros exemplos de História universal,dinastias chinesas,França medieval,tudo isso com o objetivo de explicar a polarização americana e a emergência de Donald Trump.
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Turchin e sua equipe usam fórmulas matemáticas,poderosos computadores,mas suas conclusões não impressionam muito meu precário conhecimento empírico. A tese é que o empobrecimento popular é motivo da queda de governos quando está ligado a uma superprodução de elites,estas no sentido econômico,político,cultural,enfim nas suas várias formas. O encontro da insatisfação popular com a frustração de parte da elite que não consegue ascender é a centelha que acende a fogueira.
Preciso ler o livro com mais cuidado,mas,na minha opinião,Lênin,Tróstki e os intelectuais russos não tinham nenhuma pretensão de um bom emprego na estrutura do czarismo. Prefiro,momentaneamente,pois estou ainda estudando os exemplos de Turchin,acreditar,como Isaac Deutscher,que uma grande insatisfação popular acaba rachando as elites políticas até de um partido único,tirando-as de sua zona de conforto.
Prometo estudar mais. Meu problema é o Brasil. Sinto que o período de redemocratização foi relativamente instável,e o grande sinal do início da decadência foram as manifestações de junho de 2013. No caso brasileiro,o bolsonarismo acabou se aproveitando da grande crise em 2018,mas acabou mergulhando nela de cabeça. Bolsonaro cooptou Moro,iniciou o desmantelamento da Lava-Jato,criou o orçamento secreto,e seus aliados hoje lutam na Câmara para derrubar o instrumento da delação premiada.
A derrota de Bolsonaro poderia pura e simplesmente continuar o processo revelado em 2013 ou iniciar uma nova fase. Minha hipótese é que as forças que conduziram a redemocratização não fizeram um exame profundo de seus erros e substituíram Bolsonaro no poder como se nada tivesse acontecido.
O noticiário é desolador. E não é só o esforço para derrubar instrumentos de investigação. Um líder partidário foge da polícia porque desviou R$ 36 milhões de dinheiro público; o ministro das Comunicações é acusado de participar de uma quadrilha; um leilão de compra de arroz acaba num escândalo com uma modesta loja de queijos de Macapá indicada para importar R$ 736 milhões do cereal.
Todos esses fatos acontecem,e deputados se enfrentam aos gritos e empurrões discutindo o problema das rachadinhas. O que levou a 2013 tinha muito de frustração com o fato de a população pagar muito imposto e receber serviços precários de volta.
O que os políticos tramam no intervalo são projetos cabulosos,como o que ameaça as praias e o que agora determina que a menina violentada terá pena maior que o estuprador se fizer um aborto.
Os caminhos da desintegração estão desenhados. Há clareiras,como as políticas sociais que ainda confortam os mais pobres,mas a própria classe média pode se rebelar.
Vejo certo consenso nas forças políticas quando se trata de enfraquecer o combate à corrupção. E um estranho consenso em torno de projetos conservadores. Como estão em minoria,os progressistas se escondem na hora da votação.
Nas corridas de cavalo,quando um corredor se distancia,costumamos dizer: de trás não vem ninguém. No momento,podemos dizer: nas elites políticas,não há quase ninguém. Minha hipótese é que estamos nesse ponto. No momento,não tenho nenhuma ideia de para onde vamos.
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