Produção de energia eólica em Pecém,no Ceará — Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Produção de energia eólica em Pecém,no Ceará — Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo
GERADO EM: 30/07/2024 - 04:02
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A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) do ano passado foi encerrada com o compromisso,assumido por cerca de 200 países,de triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030 — o que significa atingir 11 terawatts em menos de sete anos. Na visão de especialistas,a meta da transição energética,fator essencial para reduzir emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030 em comparação a 2019,demanda três requisitos: apoio político,investimento em grande escala e acesso de países emergentes a fontes de recursos adequadas.
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Bancos de desenvolvimento e multilaterais ganham papel de destaque como agentes catalisadores de recursos privados,hoje concentrados em poucos — e ricos — mercados. Nesse contexto,o novo papel das instituições de fomento entrou na agenda de prioridades do Brasil em 2024,ano em que o país preside o G20.
Os esforços dos grupos de Transições Energéticas e Finanças do G20 rumo às metas de descarbonização do setor,de acordo com um de seus membros,estão concentrados em questões como ampliação das fontes de financiamento,democratização do acesso ao crédito e adoção de novos mecanismos de apoio. Hoje,85% do investimento global em energias renováveis beneficiam menos de 50% da população. A África,por exemplo,foi responsável por apenas 1% da capacidade adicional de energia limpa em 2022 e abriga mais de 560 milhões de pessoas sem acesso à eletricidade.
Há avanços,mas insuficientes para reverter o quadro atual,segundo Juliano Assunção diretor executivo do Climate Policy Initiative,da PUC-Rio. Os investimentos em transição energética,de US$ 1,8 trilhão em 2023,foram recorde,segundo Agência Internacional de Energia,mas ainda estão longe dos US$ 4,8 trilhões necessários até 2030 para atingir emissões líquidas zero.
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É nesse contexto que as reformas de bancos multilaterais ganharam prioridade no G20,já que são capazes de garantir apoio aos países menos atraentes para recursos privados. Entre os itens da agenda do grupo de Finanças consta a adoção ou ampliação,pelos bancos multilaterais,de mecanismos de-risking (limitação da exposição),por meio de instrumentos capazes de mitigar o risco dos projetos,reduzindo o custo de capital para o investidor. As discussões sobre o novo papel dos bancos não visam apenas a ampliar recursos para financiamento,mas a garantir que essas instituições atuem mais assertivamente para alavancar capital privado.
— O G20 está tratando esse tema como uma das potenciais proposições que trará em novembro,no encerramento dos trabalhos — diz Luiz Assis,sócio da área de financial advisor da Deloitte.
Outros instrumentos em pauta são o de garantias de performance,blended finance (que une recursos públicos,de fomento e capital privado) e hedge cambial,nos moldes do programa do governo que incentiva a entrada de capital estrangeiro no país para investimentos na transição energética. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vem atuando nessa direção.
— O financiamento para transição não pode vir só do setor público e de bancos multilaterais. Boa parte terá de vir do setor privado,incluindo investidores institucionais. O BID é um catalisador para gerar escala e impacto — diz Marcelino Madrigal,chefe da Divisão de Energia do banco.
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O Brasil tem credenciais para liderar o tema,com o BNDES servindo de modelo na consolidação dos parques de geração eólica e solar. Maior financiador de investimentos verdes do mundo,segundo a BloombergNef,o banco aportou R$ 163 bilhões em projetos de energia renovável,equivalentes a 67,3 GW.
— No mundo,65% das emissões vêm do setor energético. No Brasil,são 18%. Temos essa matriz mais limpa porque o BNDES participou do financiamento de todas as rotas tecnológicas — diz Luciana Costa,diretora de infraestrutura,transição energética e mudança climática do banco.
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Segundo Luciana Costa,a estimativa de investimentos globais em energia limpa para 2024 é de US$ 2 trilhões,superior ao valor de U$$ 1,2 trilhão previsto para os combustíveis fósseis,mas a maior parte vai para China,Europa,Índia e EUA.
— Há um gap muito grande de investimentos para América Latina e África. O Brasil não enfrenta esse problema. Conseguimos atrair funding para investimentos em energia renovável. Conseguimos investir em energia porque não ficamos dependentes de recursos externos nem de outros bancos de fomento — diz.
Nessa nova etapa rumo à descarbonização do setor,o papel do banco,segundo a diretora,é de manter sua relevância no fomento a projetos de combustíveis de baixa emissão de carbono,como diesel verde,combustível sustentável de aviação (SAF) e biobunker (motores de navio),além do hidrogênio verde,que tem na energia 70% de seu custo.
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— Vamos financiar os primeiros projetos (de hidrogênio verde) e via equity em alguns projetos,por meio da BNDESpar (braço de participações do banco),que tem como estratégia a transição energética,climática e economia circular — diz Luciana.
A atuação será via fundos,com possível participação direta no futuro. Hoje,o instrumento mais relevante do banco para o setor é o Fundo Clima,que já conta com carteira de R$ 32 bilhões,dos quais R$ 28,3 bilhões referentes a projetos de energia de baixo carbono. Parte dos recursos tem como origem a linha de crédito assinada entre BNDES e BID,no ano passado.
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O BID possui uma carteira ativa de projetos de transição energética de US$ 3,9 bilhões,com alocação anual de US$ 1 bilhão,que deverá se manter. Entre 2015 e 2022,América Latina e Caribe ampliaram sua capacidade renovável,atingindo 64% de geração a partir de fontes renováveis. O ritmo deve acelerar,já que a previsão é de aumento da demanda por energia a uma média anual de 2,3% entre 2022 e 2050.
— É uma grande oportunidade para a região,pode ser o palanque de desenvolvimento para novas oportunidades — diz Madrigal,para quem a América Latina está bem posicionada no quadro global. — A transição energética tem de ser justa e requer o avanço para novas fronteiras. Para reduzir emissões,o mundo vai demandar insumos que a América Latina pode prover,como hidrogênio verde e minerais como cobre e níquel.
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