Fernanda Torres em \'Ainda estou aqui\',de Walter Salles — Foto: Divulgação RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Fernanda Torres em 'Ainda estou aqui',de Walter Salles — Foto: Divulgação
GERADO EM: 22/09/2024 - 00:01
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Antes que o mundo acabe,vamos falar um pouco mais sobre cinema brasileiro.
Vamos falar mais um pouco sobre o projeto de filmes dos meninos que estão interessados em fazê-los. São técnicos,pessoas cada uma balançando os braços com aqueles papéis nas mãos revelando ou reafirmando o direito de estar fazendo um filme.
Tem uns até que se deram bem,como o recente e excelente Walter Salles sobre a família do ex-deputado Rubens Paiva,preso,torturado e liquidado durante o governo de um dos líderes “revolucionários”.
Este é um filme que não passará despercebido,não será lembrado apenas pela violência ou pela crudelíssima indústria dos poderosos,os únicos com armas nas mãos.
Certamente pensaremos sobre nós mesmos e sobre nosso fracasso sobre nós mesmos,nossa incapacidade de agirmos sobre o que somos.
Por uma coincidência,em 1964,um grupo de então jovens cineastas brasileiros decidiu revelar ao mundo do cinema o que era o Cinema Novo brasileiro. As manifestações sobre o evento estão espalhadas por aí,inclusive um pré-roteiro que publiquei no livro editado em 2014,“Vida de cinema”.
Além da reação de Bernardo Bertollucci às principais lembranças minhas e de outros brasileiros ligados à produção de “Ganga Zumba”,minha recordação mais importante e citada eram duas. Por um lado,logo que chegamos na França,ouvimos os elogios ditos por François Truffaut,que ainda era um crítico de destaque (embora já tivesse realizado seu filme de estreia,lançado e premiado em Cannes,no ano anterior).
Truffaut dizia simplesmente que “Vidas secas”,com aquela cadelinha gracinha,levada a passear por Cannes pela produtora Lucy Barreto,era um filme que justificava a existência do cinema,uma frase que me recordou o que já tinha sido dito a propósito de seus ídolos americanos algumas décadas antes.
E finalmente o compromisso de Nelson com Glauber,que aquele não teve como cumprir com este.
Eu estava presente quando Glauber ofereceu à Cinemateca a cópia subtitulada de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”,que por sua vez estava em ótimas condições,nada podia prever qualquer problema. Foi essa a cópia que deu existência ao filme.
E,como no Brasil,havia sempre um nariz torcido,uma reclamação de que não era bem assim que as coisas se passavam là-bas. Confesso que às vezes ficava irritado com esse excessivo respeito pelo comportamento convencional.
Finalmente quando tudo terminou,quando “Deus e o Diabo...” se despediu de Paris,tomou seu rumo e foi fazer sua revolução cinematográfica em outra sala,caí nos braços dele como um herói,quase um santo.
Eu estava muito feliz e realizado! Pronto.
Passei os meses seguintes como um vitorioso a carregar tais lembranças às costas,o peso de um sucesso que no fundo só tinha a ver mesmo com aquilo que mais amo dentro do que faço. E,sobretudo,o que quero criar.
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