Tatiana Weston-Webb — Foto: Pedro Dimitrow RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você GERADO EM: 20/10/2024 - 04:30
Tatiana Weston-Webb — Foto: Pedro Dimitrow
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Foi com a confiança de quem subiu numa prancha pela primeira vez aos 2 anos que Tatiana Weston-Webb estreou no circuito mundial de surfe feminino,em 2015. De onda em onda,em uma década de trajetória,conquistou 22 troféus e o terceiro lugar no ranking da World Surf League (WSL) — a elite do esporte. Este ano,nos Jogos Olímpicos de Paris,tornou-se a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha olímpica na modalidade. “Sempre foi um sonho participar de uma Olimpíada. Lembro de assistir pela TV quando criança junto com a minha mãe. Fiquei muito feliz de ter conseguido chegar tão longe”,diz a surfista de 28 anos,que levou a medalha de prata após disputar a bateria final com a americana Caroline Marks. Agora,curte merecidas férias até janeiro do ano que vem,mês de início do calendário das disputas da WSL. Antes de embarcar para a Flórida,onde moram seus pais,Tatiana passou pelo Brasil para cumprir agenda de compromissos com patrocinadores e fez as fotos deste ensaio no Guarujá,cidade do litoral paulista onde nasceu seu marido,o também surfista profissional Jesse Mendes,e onde o casal mantém uma casa.
Filha da bodyboarder brasileira Tanira Guimarães e do surfista britânico Doug Weston-Webb,Tati nasceu em Porto Alegre,no Rio Grande do Sul,e foi com a família para o Havaí quando ainda era um bebê de 2 meses. A dupla nacionalidade (americana e brasileira) lhe dava o direito de escolher qual bandeira defenderia na Olimpíada de Tóquio 2020,quando o surfe se tornou esporte olímpico. Representar o Brasil,segundo ela,foi um “chamado do coração”. “O Comitê Olímpico me procurou em 2018 e perguntou se eu toparia fazer parte da delegação. Aceitei na hora. Sou brasileira. Nunca me senti americana”,afirma a surfista,para quem a vitória,em Paris,teve gosto especial. Doze das 20 medalhas do Brasil foram conquistadas por mulheres,um feito histórico.
Tatiana Weston-Webb — Foto: Pedro Dimitrow
Tati desfilou um português fluente no mais recente episódio do #ELAPod,já disponível no Spotify e no canal do YouTube do GLOBO. Mas o inglês ainda é seu idioma predominante. “Minha mãe falava em português comigo e com meu irmão quando éramos pequenos,mas meu pai,nos dias em que ficava sozinho com a gente,não entendia nada,e até hoje não aprendeu a falar (risos)”,conta,relembrando as viagens ao Brasil para visitar a família materna. “Todos falavam inglês,então perdemos a prática do idioma. Só voltei a treinar por conta dos meus sogros.”
Foco e disciplina são virtudes da atleta,segundo o empresário carioca Felipe Borges,que agencia a carreira de Tati desde que ela optou por competir pelo Brasil. “Trabalhar assim é muito fácil. Bateu uma grande sinergia logo nas nossas primeiras reuniões”,elogia o empresário. “Ela já era um grande nome do surfe mundial quando começamos,tive que correr atrás.”
Quem acompanha tamanho sucesso,no entanto,pode não imaginar que Tati quase trocou o mar pelo gramado de um campo de futebol. “Eu era muito boa jogadora na infância,mas os óculos de grau me atrapalhavam”,relembra. O surfe entrou de vez em sua vida aos 8 anos,quando passou a pegar ondas com o irmão mais velho e entrar em competições juvenis. “Não conseguia enxergar nada na água. Já nessa época,começaram a falar que eu era boa no surfe por ter um sexto sentido”,lembra a atleta,que realizou uma cirurgia para melhorar a miopia em 2019.
Durante a carreira no surfe,a brasileira viveu alguns episódios de machismo,o que a fez se tornar uma das principais vozes feministas da modalidade. “Nunca quis esse lugar de militância,mas fiquei com tanta raiva de das situações,que acabou sendo inevitável. Já aconteceu diversas vezes de estar no mar esperando a série,há um tempão,e um homem tomar a frente,mesmo eu tendo prioridade. Isso rolava com frequência,mas agora é bem mais raro”,conta. “Homens e mulheres só conseguiram ter equidade nas premiações em 2019,uma grande conquista. E,como surfamos de biquíni,já ouvi comentários inconvenientes sobre meu corpo. Foi num desses que meu irmão quase saiu na mão com um moleque.”
Tatiana Weston-Webb — Foto: Pedro Dimitrow
Outro desafio foi lidar com a falta de sororidade entre algumas competidoras no início de sua trajetória na elite do surfe mundial. Segundo Tati,as surfistas a tratavam com antipatia. “A entrada na WSL foi um período estranho da minha carreira. Senti que praticavam bullying comigo,eram meio metidas,abordavam-me com uma postura ‘nariz em pé’ por eu ter chegado naquele patamar muito jovem e cheia confiança”,relembra Tati.
Naquela época,a surfista já tinha o apoio de Jesse,seu parceiro há dez anos e com quem está casada há quatro. Os dois se conheceram surfando numa ilha do Havaí,e,desde então,não se desgrudaram. “Rodamos pelo mundo sempre juntos,graças a Deus,porque iria sofrer muito se fosse diferente. Preciso dele ao meu lado,esse universo competitivo não é fácil e sou muito emotiva”,confessa a brasileira. “Perdi a conta de quantas vezes já chorei no ombro dele,por tamanha pressão que é competir.”
Além do apoio do marido,Tati recorre a sessões de terapia para cuidar da saúde mental,e ainda é adepta a práticas como meditação,ioga,e de conexão com a espiritualidade. “Todos deveriam ser atendidos por um psicólogo. É importante ter alguém para desabafar,porque nem tudo você pode contar para a sua família e as pessoas próximas.”
Tatiana Weston-Webb — Foto: Pedro Dimitrow
Jesse,por sua vez,lamenta não ter conseguido acompanhar a esposa em Teahupo’o,no Taiti,local sede do surfe olímpico nos Jogos Olímpicos deste ano. Ele,aliás,não faz parte da equipe técnica da mulher,por ambos não desejarem misturar a relação pessoal com a profissional. “Há muitas restrições para assistir a esse tipo de evento. Então,decidi deixá-la na concentração junto com Time Brasil,eles tinham uma boa estrutura. Era melhor ver de casa mesmo”,diz o surfista,que enaltece Tati como sua “parceira de vida”. “Somos muito unidos e cuidamos um do outro. Pretendemos manter isso para sempre.”
O casal planeja ter o primeiro filho após os 30 anos da surfista,e a ideia é que o parto seja no Brasil. “Queremos muito que esse momento aconteça. A avó do Jesse ainda está entre nós,e estamos doidos para vê-la virar bisavó.”,comenta. “Mas estou numa fase importante da carreira. Então,as decisões estão sendo tomadas a cada dia. Ainda vou me tornar a número 1 do ranking e ser campeã mundial.”
Tirar onda é com ela mesmo.
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