Alexandre Bompard — Foto: Nathan Laine RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você GERADO EM: 26/11/2024 - 01:13
Alexandre Bompard — Foto: Nathan Laine
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Um comunicado divulgado no sábado pelo CEO global do Carrefour afirmando que não compraria mais carne brasileira para suas lojas na França em apoio à oposição de agricultores franceses ao avanço do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul levou a varejista a mais uma crise no Brasil.
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Quatro anos depois de a multinacional francesa ter vivido duras consequências à sua imagem corporativa no Brasil com o assassinato de João Alberto Freitas,um homem negro espancado até a morte por seguranças em uma loja da rede em Porto Alegre,às vésperas do Dia da Consciência Negra,o Carrefour tem mais uma vez um grande incêndio para apagar no Brasil.
Em uma carta direcionada para Arnaud Rousseau,presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA),o executivo declarou que,“em solidariedade ao mundo agrícola,o Carrefour se compromete a não comercializar nenhuma carne do Mercosul”.
O caso atual não tem a inestimável perda de uma vida para o racismo,mas novamente envolve a marca do Carrefour em um ruidoso boicote que certamente poderá lhe custar um razoável prejuízo financeiro. E a nova crise foi desencadeada por ninguém mesmo que o principal líder da companhia,o CEO global Alexandre Bompard. Mas quem é esse executivo?
O francês é presidente e diretor-executivo do Grupo Carrefour desde 18 de julho de 2017. Para ocupar o cargo,tem como principais credenciais um diploma em Direito Público do Instituto de Estudos Políticos de Paris e uma pós-graduação em Economia.
Alexandre Bompard,CEO global do Carrefour — Foto: Nathan Laine/Bloomberg
Ele também é graduado pela Escola Nacional de Administração da França,a ENA. Após este curso,ele ingressou,em 1999,na Inspetoria Geral de Finanças da França. Atuou ali até 2022,quando se tornou assessor técnico de François Fillon,então Ministro dos Assuntos Sociais,Trabalho e Solidariedade da República Francesa.
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Um homem de prestígio na França,detém o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do país. Em 2004,migrou para o setor privado. Segundo sua biografia no site do Carrefour,ele atuou até 2008 no Grupo Canal+,onde ocupou diferentes cargos. Foi chefe de gabinete do presidente da companhia de comunicação,Bertrand Méheut,e diretor de Esportes e Assuntos Públicos.
Trocou aquela empresa pelos canais Europe 1 e Europe 1 Sport,dos quais se tornou presidente e diretor-executivo em junho de 2008. Ele ainda teve uma passagem pelo Grupo Fnac,de livrarias. Liderou o grupo entre 2011 e 2013,quando liderou a abertura de capital da varejista.
Em janeiro de 2011,Alexandre Bompard ingressou no Grupo Fnac como Presidente e Diretor Executivo. Em 20 de junho de 2013,liderou a abertura de capital da Fnac. Comandou aquisições nos anos seguintes,permanecendo na empresa até 2016. No ano seguinte ele assumiu o comando do Carrefour.
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Ele ainda preside a Fundação Carrefour e é diretor da Fundação de Ciências Políticas e da Associação Francesa de Empresas Privadas (Afep). Bem-relacionado no mundo empresarial,desde agosto do ano passado é o presidente da Federação do Comércio e da Distribuição (FCD) da França.
Ao anunciar um boicote à carne brasileira na França,o executivo parece ter dado um tiro no pé. Afinal,provocou um movimento similar em sentido contrário tendo como alvo a operação brasileira do grupo,que é atualmente a segunda maior fonte de receitas da empresa.
Abilio Diniz entre executivos do Carrefour Brasil na abertura de capital da filial na B3 — Foto: Marcos Alves/ Agência O Globo
Além de ter no Brasil o seu segundo maior mercado (o país perde apenas para a França nos negócios da rede francesa),também fica por aqui o seu segundo maior acionista: a Península,empresa que o empresário Abílio Diniz deixou para seus herdeiros.
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O colunista do GLOBO Lauro Jardim informou que a atitude de Bompard irritou particularmente a segundo maior acionista da varejista francesa: a família Diniz,que tem 13,7% do capital votante do Carrefour global por meio de sua Península Participações.
O Brasil é o segundo maior mercado do grupo Carrefour no mundo. Perde apenas para a França. Aqui faturou R$ 108 bilhões em 2022. O colunista ainda observou que provavelmente a família Diniz não é a única acionista infeliz com o estilo de Bompard. Quando ele assumiu o Carrefour,a ação estava em € 33 e hoje está €14.
A imprensa francesa também questionou a conveniência da ação de Bompard,como apontou a coluna Capital,do GLOBO. “Era realmente necessário para o Carrefour se expor assim,considerando que o grupo,além disso,é líder do mercado brasileiro,gerando um quarto de sua receita líquida na América Latina?”,escreveu ontem Isabelle Chaperon,veterana repórter econômica do Le Monde e cuja coluna se intitulava “Carrefour preso na armadilha do Mercosul”.
No ano passado,o grupo faturou € 21,4 bilhões no Brasil,quase um quarto das vendas globais,que somaram € 92,6 bilhões. Só a França é mais importante para o Carrefour,com € 42,5 bilhões em vendas. O Brasil vende mais que o dobro do terceiro colocado,a Espanha,que registrou € 11,8 bilhões em vendas. O destaque no Brasil é principalmente sua marca de atacado,o Atacadão.
Diante de um claro erro,bombeiros articulam um pedido de desculpas de Bompard para deter a escalada de boicotes que a empresa está vivendo no Brasil. De um lado,perdeu o fornecimento de carne de grandes frigoríficos. De outro,é alvo de uma campanha negativa de empresários de diferentes ramos,solidários ao setor de carnes,um dos mais importantes da indústria brasileira de alimentos.
Se Bompard realmente fizer uma reparação pública em uma carta,como é cogitado em Brasília,não será a primeira vez que ele tem de pedir desculpas públicas no Brasil. Em 2020,quando o assassinato de João Alberto mobilizou protestos em todo o país — incluindo campanhas por boicotes e invasão de lojas da rede —,o executivo teve de vir a público admitir erros e prometer mudanças.
No dia 21 de novembro daquele ano,Bompard se manifestou sobre o crime dentro de uma filial da rede varejista. Em um post publicado no então Twitter,o executivo francês prometeu a revisão de treinamento de funcionários e terceirizados como os seguranças assassinos “no que diz respeito à segurança,respeito à diversidade e dos valores de respeito e repúdio à intolerância”.
A empresa teve de pagar mais de R$ 100 milhões em indenizações e multas e investiu em uma série de programas de diversidade racial desde então e ultimamente parecia ter superado a crise de imagem provocada pelo assassinato. Mas agora está mais uma vez em maus lençóis no Brasil.
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