Escultura em Londres,em evento de conscientização sobre as consequências do aquecimento global — Foto: AFP PHOTO/ Shaun Curry
Escultura em Londres,em evento de conscientização sobre as consequências do aquecimento global — Foto: AFP PHOTO/ Shaun Curry
GERADO EM: 21/06/2024 - 00:05
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Ao longo dos séculos,o comportamento do clima foi essencial para garantir o desempenho adequado da agricultura e dos assentamentos humanos. Em muitos casos,a deterioração progressiva das condições climáticas levou à extinção de cidades,como aconteceu na Península de Yucatán,no Golfo do México,e no clima seco do Oriente Médio e da África,contribuindo de forma significativa para o declínio do Império Romano.
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Enquanto essas variações ocorriam lentamente,a criatividade de autoridades permitiu enfrentá-las com sucesso,construindo canais e diques,como aconteceu no mesmo Oriente Médio. Em contraste,eventos climáticos extremos tendem a ser inesperados,embora muito destrutivos,como vive agora o Rio Grande do Sul.
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Mas por que eles estão se tornando mais frequentes? Uma das respostas é a atmosfera terrestre estar mais quente devido ao efeito estufa,causado pelo aumento da quantidade de dióxido de carbono (CO2),que,por sua vez,é resultado inevitável da queima de combustíveis fósseis,como carvão ou derivados de petróleo e gás.
A temperatura média da atmosfera já subiu cerca de 1,5 °C desde o fim do século XVIII até agora,e a elevação poderá atingir 2 °C ou mais até 2.100. Esse calor adicional acumulado se dissipa principalmente em chuvas torrenciais localizadas e tufões.
Outras consequências do aquecimento global,como o aumento do nível do mar — cerca de 1 milímetro por ano,ou 1 metro por século —,são lentas e não parecem prioritárias para governos,principalmente os eleitos para períodos de quatro anos.
Catástrofes climáticas como a do Rio Grande do Sul exigem medidas corretivas imediatas,o que permite quantificar os custos. Em programas de longo prazo,isso é mais difícil. No RS,as estimativas sugerem que a recuperação dos danos materiais deverá custar pelo menos R$ 15 bilhões. O dilema está,portanto,em investir em medidas preventivas contra o aquecimento da atmosfera (e em reabsorção de parte do CO2 que está nela) ou então se conformar à ideia de que a situação é inevitável e se adaptar.
Pesquisas já mostraram que ambas as opções exigiriam gastos adicionais de US$ 500 bilhões por ano. É um desafio,já que esses recursos não existem hoje,sobretudo nos orçamentos de países em desenvolvimento,para assegurar bens básicos,como água potável,saneamento e moradia.
As principais propostas atuais para arrecadar esse dinheiro todo são: criar taxas sobre os cerca de 3 mil bilionários no mundo todo ou tarifar as emissões de carbono,o que,na prática,significa aumentar o preço do petróleo. É o que muitos países do Oriente Médio,como Arábia Saudita,têm feito. Eles ajustam o preço do combustível fóssil para manter o nível de vida de suas populações ou para financiar extravagâncias.
O problema é que aumentar o custo do petróleo afetaria negativamente os mais pobres,sobretudo no Sul Global. Na verdade,ambas as ideias parecem hoje irrealistas.
Medidas mais criativas parecem necessárias,como voltar a algum tipo de Protocolo de Quioto que obrigue os maiores emissores a reduzir suas emissões. O Brasil pode participar desse esforço reduzindo o desmatamento da Amazônia,responsável por cerca de 2% das emissões mundiais.
Caberia,ainda,uma nova mobilização mundial de cientistas e organizações não governamentais,além de rever a Convenção do Clima,dando a ela mais poderes além das exortações.
*José Goldemberg,presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomércio SP e físico,foi presidente da Eletropaulo e ministro do Meio Ambiente em 1992
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