Marine Le Pen discursa após fim do primeiro turno das eleições legislativas na França — Foto: François Lo Presti/AFP
Marine Le Pen discursa após fim do primeiro turno das eleições legislativas na França — Foto: François Lo Presti/AFP
GERADO EM: 02/07/2024 - 04:30
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Além de formar nuvens sobre o futuro da democracia no continente,o fortalecimento da extrema direita na Europa pode ter um impacto geopolítico inesperado,ao inclinar o balanço de forças em favor da China. Partidos de ultradireita como o de Marine Le Pen,que largou na frente na eleição legislativa da França,tendem a oferecer mais espaço de manobra ao país asiático que os de centro,a despeito das diferenças ideológicas.
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Seja qual for o resultado do segundo turno na votação francesa de domingo,o pleito antecipado pelo presidente Emmanuel Macron já serviu para confirmar a tendência de alta dos partidos de extrema direita no continente,um movimento que foi marcante na recente eleição para o Parlamento Europeu. Justamente a vitória contundente nas eleições europeias do partido de Le Pen,o Reagrupamento Nacional (RN),foi o que levou Macron à arriscada decisão de antecipar a votação legislativa no país.
Para a Europa,a guerra na Ucrânia é o tema de política externa mais próximo e com possibilidade de ser afetado pelos novos ventos ultradireitistas. Alguns dos principais partidos de extrema direita europeus têm histórico de ligações com o Kremlin,como o Alternativa para a Alemanha (AfD) e o próprio RN de Marine Le Pen. Embora ela tenha endurecido o discurso contra a Rússia na atual campanha,seu partido não costuma respaldar resoluções de apoio à Ucrânia,nem na Assembleia Nacional Francesa e nem no Parlamento Europeu.
O registro de votação em Estrasburgo é também um indicador de como a ascensão da extrema direita pode beneficiar a China. Partidos ultradireitistas costumam votar sistematicamente contra decisões consideradas desfavoráveis à China no Parlamento Europeu. De olho nessa compatibilidade e em seus potenciais dividendos políticos,Pequim se aproximou da ultradireita europeia,num inusitado casamento de conveniência.
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O elo chinês que mais deu o que falar foi com o AfD,partido alemão que ficou em segundo lugar nas eleições europeias do mês passado. Em meio ao triunfo,o cabeça de chapa do AfD,Maxmilian Krah,acabou sendo afastado do partido após se envolver em uma série de escândalos,entre eles a prisão de um assessor por suspeita de espionagem para a China. A acusação tocou num nervo com o governo chinês,que convocou a embaixadora alemã em Pequim para uma repreensão acima do tom de queixa protocolar.
O incidente causou ruído entre os países,mas não abalou a relação entre o AfD e a China. Pragmáticos e com uma queda por regimes autoritários,os ultradireitistas consideram um erro o governo de Berlim falar de direitos humanos na China e arriscar os interesses das cinco mil empresas alemãs com negócios no país asiático. O conhecimento sobre a China vem do topo: uma das líderes do AfD,Alice Weidel,viveu seis anos na China com uma bolsa acadêmica e fala mandarim fluentemente.
Assim como o AfD,o RN de Marine Le Pen também mantém relações amistosas com a China,marcadas por “um fascínio pelo caráter autoritário do governo e a ausência de críticas a seus excessos totalitários”,na descrição do semanário L’Express. Mesmo que a coalizão do presidente Macron seja derrotada no próximo domingo,ele continuará encarregado da política externa,como prevê o semipresidencialismo francês. Mas estará bem mais enfraquecido para guiar as relações europeias com a China.
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