Dorival Júnior deixa o campo com os jogadores da seleção: Brasil foi eliminado da Copa América pelo Uruguai — Foto: Robyn Beck/AFP
Dorival Júnior deixa o campo com os jogadores da seleção: Brasil foi eliminado da Copa América pelo Uruguai — Foto: Robyn Beck/AFP
Parece obra de um manual de sabotagem. Se o objetivo era “aproximar a seleção brasileira do povo”,como repetiram muitas vezes o técnico Dorival Júnior e o presidente da CBF,Ednaldo Rodrigues,o resultado não poderia ser mais diverso do desejado. O fim da participação do Brasil na Copa América deixou algumas sensações,nenhuma positiva,nenhuma próxima do discurso oficial. Na melhor das hipóteses significou o fim de um estorvo,um alívio para os clubes que tiveram jogadores convocados.
No sábado à noite,enquanto mais de 100 mil pessoas ainda estavam no Maracanã e no Morumbi para assistir aos jogos de São Paulo e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro,a seleção brasileira se perfilava num gramado em Las Vegas para ser eliminada da Copa América pelo Uruguai. Ali estavam,simultaneamente,numa disputa por atenção (e tudo que decorre disso),a principal competição de clubes organizada pela CBF contra o time da CBF. A seleção transformada em subproduto.
Leia mais: Seleção precisa corrigir o comportamento
Neste domingo,Argentina e Colômbia decidem a Copa América,enquanto Espanha e Inglaterra fazem a final da Euro. Nestes quatro países o futebol de clubes de elite está interrompido. Todas as atenções estão voltadas aos torneios continentais. Excluídas aquelas exceções que só servem para confirmar regras,não há torcedor nestes países desejando a derrota de sua seleção nacional. Porque nenhum time está atuando desfalcado dos jogadores que foram convocados por essas seleções.
Poucas vezes na história do futebol brasileiro o resultado de um jogo teve tanto a ver com decisões tomadas fora dele. A convocação do técnico Dorival Júnior para a Copa América foi apenas sua segunda desde que assumiu o cargo. A primeira havia sido em março,quatro meses antes da eliminação em Vegas. Mesmo com algumas semanas de treinos nos EUA,não seria normal o Brasil atingir,em tão pouco tempo,o nível dos rivais com trabalhos mais consolidados,como Argentina,Colômbia e Uruguai.
A seleção parece ter pressa para recuperar o tempo que a CBF escolheu perder com um técnico fictício e dois interinos em 2023. O resultado dessa necessidade é um time nervoso — do banco de reservas ao campo — e disposto a entrar em guerra contra qualquer um,por qualquer motivo. Vinicius Júnior,o melhor jogador da última Champions League,não pôde ser escalado na partida decisiva contra o Uruguai por causa desse comportamento. Levou dois cartões amarelos que ele próprio classificou como “evitáveis”,foi suspenso e não pôde impedir a derrota nos pênaltis.
Leia mais: Uma Copa do Mundo para o Brasil
Restam seis jogos para o time de Dorival em 2024,todos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O time está em sexto lugar. Como há vagas de sobra (seis diretas e uma via repescagem),não há risco do vexame de ficar fora do Mundial. O que está no horizonte talvez seja até pior: a seleção como uma distração desinteressante enquanto o Campeonato Brasileiro não é interrompido,uma ameaça aos clubes que têm jogadores selecionáveis,uma fonte de irritação para torcedores desses times e o desperdício de uma geração talentosa — tornada antipática por quem deveria cuidar melhor de um produto tão valioso.
© Hotspots da moda portuguesa política de Privacidade Contate-nos