Ex-presidente Donald Trump cumprimenta o senador J.D. Vance na primeira noite da Convenção Nacional Republicana — Foto: Doug Mills/The New York Times
Ex-presidente Donald Trump cumprimenta o senador J.D. Vance na primeira noite da Convenção Nacional Republicana — Foto: Doug Mills/The New York Times
GERADO EM: 16/07/2024 - 00:01
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A escolha do senador J.D. Vance para vice-presidente é um sinal de que a confiança na campanha Donald Trump de uma vitória em novembro é alta. É o que avalia o cientista político Michael Traugott,professor emérito do Instituto de Pesquisa Social e do Centro de Estudos Políticos da Universidade de Michigan,para quem o ex-presidente se sentiu confortável o suficiente para fazer o que desejava desde o início: escolher um companheiro de chapa republicana tão ou mais à direita do que ele.
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— Trump jamais demostrou interesse real em construir uma coalizão para além de sua base. E,diferentemente do ex-presidente,o senador afirmou publicamente que defende o veto total ao direito ao aborto. Por isso só,já oferece aos democratas uma avenida inteira para tratar do tema nos próximos meses,atentando para uma diferença crucial entre as duas campanhas — afirma ele.
Outro possível complicador,pontua o cientista político,mesmo em uma disputa entre Joe Biden,de 81 anos,e Trump,de 78,é a falta de experiência de Vance,39,em comparação com Kamala Harris,59. E não só em relação à mais óbvia função de um vice-presidente: substituir o presidente.
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— Ele é muito pouco experiente em campanhas de dimensão nacional,e esse é um risco real para Trump. Também não incrementa em nada o apelo aos não brancos,eleitores que tradicionalmente votam mais democrata. Por outro lado,a história de vida do senador ajudará a chapa a conseguir mais doações. E ele é especialmente bom nisso. E também pode diminuir outro problema sério do partido: a escassez de voto jovem — diz Traugott.
Para o diretor para os Estados Unidos da consultoria de risco Eurasia,Clayton Allen,as mensagens centrais de Trump ao escolher Vance são acentuar o populismo e o protecionismo econômico que definiram seu governo.
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— E,além disso,Trump é uma figura pública tão reconhecida,tão familiar aos eleitores,que ele teve o luxo de poder escolher alguém como vice que comunga totalmente com sua visão de mundo. Ele e sua campanha sabiam que o companheiro de chapa não iria mudar decisivamente o rumo da corrida,quem quer que fosse. Pôde escolher alguém que considere de fato leal e que ao mesmo tempo agrade à base,como Vance — explica Allen.
Vice de Trump que se recusou a deter a diplomação de Joe Biden em 2020,Mike Pence também era de um estado do Meio-Oeste,Indiana,mas se tornou,no “partido de Donald Trump”,persona non grata. Chegou a ensaiar uma candidatura nas primárias republicanas,recuou ao encarar um partido muito mais à direita do que em 2016 e sequer está presente na Convenção em Milwaukee. Um dos critérios centrais para a escolha desta segunda-feira teria sido justamente,dizem reservadamente republicanos no evento,a percepção de lealdade canina de Vance — outrora um crítico e parte do grupo Trump Nunca Mais — ao ex-presidente. Mas há,pontua Allen,muitos complicadores em sua escolha:
— Os democratas conseguiram transformar o Projeto 2025 (do grupo conservador Heritage Foundation) num fantasma perigoso e não só em uma sequência de sugestões feitas a um eventual segundo governo Trump. E eles irão bater o bumbo nas próximas semanas de que Vance é o Projeto 2025 personificado,o que é,neste caso,real.
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O editor-adjunto de Opinião do New York Times,Patrick Healy,destacou que Vance,mesmo sendo senador de um estado de maioria clara republicana — ou seja,não ajuda de modo direto com o Colégio Eleitoral —,tem o atrativo de ser do Meio-Oeste. E de seu Ohio ser demograficamente similar aos três cruciais endereços da chamada Muralha Azul,que os democratas precisam manter intacta para vencer em novembro: o Wisconsin,onde a convenção ocorre,Pensilvânia e Michigan. “Ele pode ter um efeito real nos eleitores desses estados,além de oferecer uma visão ideológica clara para o futuro do Partido Republicano depois de Trump”,escreveu.
A colunista Michelle Goldberg,do New York Times,lembrou de uma frase de Vance para pontuar que o efeito da escolha ultrapassa as fronteiras americanas. “Vance falou (ao estrategista de extrema direita) Steve Bannon: ‘Vou ser honesto com você,não ligo muito para o que acontece na Ucrânia. Deus ajude os ucranianos’”. Se de fato tiver um papel decisivo num eventual segundo governo Trump,Vance deve fortalecer ainda mais,apontam analistas,o isolacionismo trumpista.
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