A vice-presidente dos EUA,Kamala Harris,em evento de campanha no Michigan — Foto: JEFF KOWALSKY / AFP
A vice-presidente dos EUA,Kamala Harris,em evento de campanha no Michigan — Foto: JEFF KOWALSKY / AFP
O protagonismo crescente Kamala Harris nas eleições americanas transformou a vice-presidente em um dos alvos preferidos dos republicanos. Embora os ataques já viessem ganhando força nas últimas semanas,quando o fracasso do presidente Joe Biden no debate contra o ex-presidente Donald Trump impulsionou os apelos para que ela o substitua na corrida eleitoral,foi durante Convenção Nacional Republicana que movimento ficou ainda mais claro. Um discurso após o outro,Kamala — que ganhou a alcunha de "czar da fronteira" pelos oponentes — é responsabilizada pelo alto fluxo de imigrantes no país e pela crise de segurança que,na visão da sigla,é fruto disso.
— Por mais de um ano eu disse que o voto no Biden era um voto na Kamala Harris. Depois do debate,todo mundo sabe que isso é verdade. Se nós tivermos mais 4 anos de Biden ou um dia de Harris,nosso pais vai ficar na pior — disse a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley,que disputou as primárias republicanas contra Trump,durante seu discurso na convenção na terça-feira. — Kamala tinha um trabalho,só um: consertar a fronteira. Imagina o que ela pode fazer governando todo o país.
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Sob o tema "Make America Safe Again" ("Torne a América Segura Novamente",em tradução livre),o segundo dia de convenção voltou os olhares para a crise migratória e o papel do governo,sobretudo de Kamala,nisso. Adotando cartilha trumpista,diversos parlamentares associaram a questão na fronteira com outros problemas,como a crise de fentanil e o aumento nos crimes violentos que,segundo eles,são cometidos por imigrante sem documentação.
Mike Rogers,candidato ao Senado no Michigan,disse que "nunca tinha visto nada como a política de fronteira aberta de Biden-Harris". Já senador Eric Schmitt,do Missouri,acusou a Casa Branca de abrir a fronteira "para terroristas e para criminosos". O senador Tom Cotton,do Arkansas,foi além e disse que a chapa democrata permitiu "uma invasão do terceiro mundo".
— Quando Minneapolis estava em chamas e as empresas estavam em ruínas,Kamala Harris incentivou e permitiu os criminosos e os desordeiros — afirmou o deputado Tom Emmer,de Minnesota,lembrando da onda de protestos antirracistas que tomaram o país em 2020 após o assassinato de George Floyd.
Os oradores republicanos se referem a uma medida de 2021,quando Biden nomeou Harris para liderar os esforços da Casa Branca no enfrentamento da crise migratória na fronteira sul dos EUA com o México trabalhando com nações da América Central para mitigar as principais causas do problema. Na prática,um papel muito mais diplomático do que executivo — uma diferença que pouco importa para os republicanos.
De lá para cá,a imigração irregular nos Estados Unidos atingiu níveis recordes. Em dezembro do ano passado,o fluxo alcançou o pico histórico de 370 mil apreensões em apenas um mês. Para além da competência de Kamala em resolver ou não a questão,diversos fatores estão por trás do boom migratório no final do governo Biden,em especial a revogação do Título 42,uma política que foi usada na Era Trump para expulsar automaticamente migrantes não-documentados que tentassem entrar no país durante a pandemia. A iniciativa levou à deportação de mais de 2,8 milhões pessoas no período em que esteve em vigor,de março de 2020 a maio de 2023.
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As estatísticas só começaram a cair há seis meses,quando o governo levou a cabo uma ordem executiva estabelecendo uma série de medidas rígidas para frear o movimento,incluindo o eventual fechamento temporário da fronteira quando o fluxo de cruzamentos ultrapassasse um determinado limite — medida que fazia parte do projeto de lei bipartidário impulsionado pelo presidente democrata no auge da crise em 2023. A proposta,porém,foi rejeitada pela bancada republicano a pedido de Trump.
O discurso do magnata,que foi nomeado oficialmente candidato republicano na convenção,está previsto para acontecer somente na quinta-feira,noite de encerramento. No entanto,desde que o nome de Kamala começou a ganhar força nas bolsas de apostas,Trump tem intensificado as críticas contra a vice,afirmando que ela faz parte da "esquerda radical" democrata.
— Depois de arruinar o acordo bipartidário sobre a fronteira,Donald Trump recorreu à mentira sobre o histórico da vice-presidente — respondeu Brian Fallon,porta-voz da campanha de Harris,ao jornal americano Politico. — Como ex-procuradora distrital e procuradora-geral,ela enfrentou fraudadores e criminosos como Trump durante toda a sua carreira. As mentiras de Trump não a impedirão de continuar enfrentando-o nas principais questões desta disputa.
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