No Shopping da Gávea. Malasartes: portal para mundo dos livros infantis — Foto: Divulgação RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
No Shopping da Gávea. Malasartes: portal para mundo dos livros infantis — Foto: Divulgação
GERADO EM: 31/07/2024 - 04:30
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A porta aberta para um mundo de cores e contos agora está escondida por tapumes. Prateleiras que guardavam baús de histórias ficaram vazias. A Livraria Malasartes,primeira iniciativa dedicada à literatura infantojuvenil no Brasil,fechou as portas ontem,um dia antes do previsto,no Shopping da Gávea,na Zona Sul do Rio. O encerramento pegou alguns clientes de surpresa. Uma delas,a gestora ambiental Luísa de Souza,de 41 anos,transmitiu para os filhos de diferentes gerações o prazer da leitura.
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Livraria Malasartes — Foto: Reprodução/Instagram livraria_malasartes
— É a minha livraria da infância. Desde pequena eu ia com a minha mãe para contação de história. Quando íamos ao teatro no shopping,passávamos lá. Depois,fui mãe. Levava muito meu filho,hoje com 23 anos,depois o de 5. Também tenho um,de 1 ano,infelizmente não vai dar mais tempo — lamenta.
O anúncio oficial do fim,feito na conta da livraria no último dia 12,provocou uma enxurrada de mensagens,algumas de nomes conhecidos como as atrizes Patricia Pillar e Alice Wegmann,o compositor Pedro Miranda e a artista plástica Beatriz Milhazes. Ontem à noite,um encontro com mais de 40 clientes e amigos fechou o ciclo com chave de ouro. Na loja,que ainda tinha fotos,livros e brinquedos antigos,o clima era de comoção,sobretudo para Renata Moraes,uma das fundadoras a resistir até o fim. Ela foi às lágrimas com apresentações musicais e outras homenagens.
Inaugurada em 1979 no shopping da Gávea como a primeira livraria especializada no público infantil — Foto: Domingos Peixoto
Outra das fundadoras foi a escritora Ana Maria Machado,integrante da Academia Brasileira de Letras. Ela contou,em texto publicado no dia 15,no GLOBO,que,em 1979,depois de entrevistar Maria Eugenia da Silveira,animadora de festas que pensava em abrir uma loja de brinquedos,a convenceu a abrir com ela a primeira livraria infantojuvenil do Brasil. Às duas se somaram Claudia Moraes,repórter,e Renata,psicóloga que continuou até ontem na gestão da loja.
A livraria existiu por 45 anos: fez bodas de rubi com seu público. Ana Maria Machado,de 82 anos,celebra o negócio que atravessou décadas:
— Foi uma história de sucesso. A Malasartes formou leitores e escritores,como Flávia Lins e Silva (autora da coleção “Diário de Pilar” e da série de TV “Detetives do prédio azul”) e Martha Batalha (que escreveu “A vida invisível de Eurídice Gusmão”,entre outros títulos,e é colunista do GLOBO),apoiou professores no estímulo à leitura e durou quase meio século.
Hoje,muitos adultos ainda lembram: a livraria de inconfundíveis prateleiras vermelhas dava total liberdade às crianças,normalmente cerceadas em ambientes como esse. Lá,podiam mexer onde quisessem,folhear os produtos à venda,devorar um livro inteiro esparramadas nas almofadas. Um pequeno sebo disponibilizava exemplares por valores mais baratos.
Quando as crianças cresciam,continuavam a se sentir donas do lugar. Que o diga Silvia Buarque. Ela lembra que os livros eram os únicos objetos cuja compra seus pais,o compositor Chico Buarque e a atriz Marieta Severo,não restringiam.
— Se eu lesse hoje em dia como eu lia quando era criança,eu ia ser cultérrima (risos). Na minha casa,se estivesse lendo,podia sempre comprar livros novos. Não havia limite,dentro do bom senso,claro — diz a atriz de 55 anos.
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Um ano após a abertura da pioneira Malasartes,14 concorrentes surgiram só no Rio. O prazer de frequentar a loja parecia sem fim.
— Lembro muito da gente sentada naquelas almofadas,vasculhando os livros. E tenho afeto também porque eu levava a minha filha,conversava muito com a dona. Minha filha e as dela estudavam no mesmo colégio. É uma perda para as pessoas e é uma perda para a cidade — resume Silvia.
No fim de 1979,Chico Buarque,pai de Silvia,lançou o livro “Chapeuzinho amarelo” na livraria. Há relatos de filas gigantescas e um engarrafamento que chegou ao Jardim Botânico. Hoje,com o movimento de compras mais forte na internet,a perda do vínculo entristece antigos visitantes.
— As livrarias estão fechando. Está desesperador esse movimento. Livrarias pequenas não são simples lojas,elas proporcionam uma experiência afetiva com conversa,troca de ideias. É uma coisa colorida,aconchegante. Não é um simples comércio — diz Luísa de Souza.
Nos últimos quatro anos,foram fechadas a Livraria da FGV — inaugurada em 1954,na Praia de Botafogo —,a Carga Nobre,na PUC-Rio,a Galileu — na Tijuca e no Largo do Machado —,a Timbre e a Tracks,na Gávea,e a Hilário,inaugurada em 2022,na Saúde.
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