Mpox volta a acender alerta da OMS. — Foto: AFP RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você GERADO EM: 19/08/2024 - 04:30
Mpox volta a acender alerta da OMS. — Foto: AFP
GERADO EM: 19/08/2024 - 04:30
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Em abril deste ano,nesta mesma coluna,escrevi com preocupação sobre o surto de mpox na República Democrática do Congo (RDC),o maior já enfrentado naquele país. A doença ficou conhecida mundialmente quando se espalhou por vários países da África e do Norte Global em 2022. Alguns países na Europa e os EUA organizaram campanhas com uma vacina para varíola,pois os vírus causadores são parentes próximos. Na época,notou-se baixa capacidade de produção da vacina. Mas a cepa que circulava não era do tipo mais agressivo,e o surto passou,todos respiraram aliviados.
Em 2024,a RDC relatou um aumento de casos e maior disseminação da doença,que já vinha acontecendo desde abril de 2023. Além disso,registrou uma preocupação grave: o vírus que circulava não era o mesmo de 2022. Era um tipo mais grave e mais letal. O vírus que circulou em 2022 era do clado 2,conhecido por sua capacidade de transmissão por contato sexual,principalmente entre homens que fazem sexo com homens,mas de menor letalidade. Já em 2034-24 temos o clado 1,mais letal,mas,historicamente,sem transmissão sexual significativa. Historicamente,porque agora isso mudou. Muitos casos do clado 1 vêm sendo registrados entre trabalhadores do sexo,mulheres e crianças. Mais de dois terços dos casos anunciados em abril deste ano agora,2024,são de crianças menores de 15 anos,faixa etária que também apresentou a maior quantidade de óbitos.
Na semana passada,a OMS declarou novamente uma emergência sanitária global por causa do crescimento dos casos de mpox na África,com a disseminação de um subtipo do clado 1 que tem maior letalidade e a capacidade de se transmitir por contato sexual,tanto homo quanto hétero. Além de reconhecer a gravidade da situação local,a OMS reconhece o potencial pandêmico desse vírus. Ao declarar emergência sanitária,sinaliza para os países membros que é preciso desenvolver estratégias locais e de cooperação internacional para conter a doença.
Mas nada disso é novidade. O vírus já era endêmico na região. Houve um surto internacional em 2022. Houve o aumento de casos e mudança de comportamento do vírus registrados a partir de abril de 2023. Não faltaram sinais de alerta e pedidos de ajuda dos governos locais. O vírus se espalhou para países vizinhos,incluindo alguns como o Quênia,onde nunca tinha aparecido. Apareceu um caso da Suécia. Em maio deste ano,um grupo de epidemiologistas publicou um estudo na revista Lancet Global Health intitulado: “O surto de mpox na África: um apelo”. O artigo descreve o que precisa ser feito para impedir que o surto se transforme em uma epidemia,ou pior,pandemia.
É preciso acesso a testes diagnósticos,vacinas e antivirais. Acertos políticos,acordos internacionais,investimento de longo prazo. Aqui também,nenhuma novidade,mas parece necessário repetir o óbvio.
Além das consequências individuais de sofrimento e morte,doenças trazem consequências coletivas econômicas sérias. A Agencia Africana de Risco (Africa Risk Capacity ) tem feito um trabalho interessante com financiamento de risco para desastres climáticos e epidemiológicos,no momento,o portfólio inclui apenas doenças como ebola,marburg e meningite meningocócica,escolhidas pelo seu potencial epidêmico e impacto histórico. Seria interessante expandir o escopo para doenças com potencial pandêmico como mpox,talvez ajudando a atrair mais investidores.
Faço minha parte aqui,repetindo o óbvio,então: o mundo desenvolvido não pode mais se dar ao luxo de negligenciar doenças endêmicas de países pobres. E de novo,se não são capazes de agir por altruísmo,que seja por autopreservação. Microrganismos não precisam de passaporte. O que acontece no Congo não fica no Congo.
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