O Banco de Cabo Verde (BCV) apontou hoje a elevada concentração do setor bancário nos mercados de crédito e de depósitos como uma das principais vulnerabilidades do sistema financeiro do país, situação que pode contagiar todo o sistema.
No seu relatório de estabilidade financeira de 2023,o regulador cabo-verdiano constatou que "a elevada concentração da carteira de crédito reflete o alto nível de exposição a operações de maior risco e a mutuários pertencentes aos mesmos setores económicos".
Por sua vez,a elevada concentração bancária no mercado de depósitos destaca a forte dependência estrutural do financiamento das instituições,acrescentou.
"A combinação destes dois fatores contribui para amplificar o risco de contágio em todo o sistema bancário",alertou o BCV,que apontou ainda a reduzida dimensão da economia e o seu grau de forte dependência externa como outras das principais vulnerabilidades.
"Enquanto pequena economia insular e aberta,Cabo Verde está fortemente exposto aos desenvolvimentos externos,particularmente os da área do euro",constatou,indicando que um dos efeitos é a transmissão da inflação importada aos preços internos.
No relatório,o Banco de Cabo Verde identificou um conjunto de vulnerabilidades conjunturais do sistema financeiro do arquipélago,como o nível de crédito em incumprimento,que foi de 7,3% em 2023.
"Apesar da tendência de redução,o atual nível de risco de crédito poderá impactar o custo final de financiamento à economia e influenciar as condições gerais de concessão de crédito,condicionando assim a dinâmica da intermediação financeira",explicou.
O banco central concluiu que algumas empresas estão mais vulneráveis a nível financeiro com o levantamento das medidas de apoio à crise pandémica em 2022 e que continuaram a operar num contexto de inflação elevada em 2023,ainda que menos acentuada.
"Esta situação traduziu-se num aumento do risco de incumprimento do serviço da dívida para o sistema financeiro",salientou,constatando que a persistência de um elevado nível de endividamento do Estado (de cerca de 110% do PIB) é outro dos problemas financeiros do país.
Não obstante a "melhoria das contas públicas",o BCV alertou para a elevada ligação entre a banca e o setor público,quando comparado com as economias em desenvolvimento,e alguns mercados emergentes vulneráveis e países de baixo rendimento.
O regulador do sistema financeiro cabo-verdiano chamou ainda a atenção que a digitalização dos serviços na indústria bancária e o recurso crescente a meios digitais que induz à maior exposição ao risco de ataques informáticos.
Neste sentido,considerou que é "crucial" reforçar a capacidade de prevenção,deteção e gestão de ameaças cibernéticas no país.
Em 2023,a economia cabo-verdiana cresceu 5,1% e a inflação foi de 3,7%,conta os 7,9% do ano anterior.
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