Garota usa o celular na porta da escola — Foto: Freepik RESUMOSem tempo? Ferramenta de IA resume para você
Garota usa o celular na porta da escola — Foto: Freepik
GERADO EM: 22/09/2024 - 04:30
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A cada dia chegam mais sinais de que a maré está virando a favor da infância e adolescência. Depois de uma década de estragos que avançaram em velocidade impressionante,o mundo está percebendo que é preciso afastar nossos jovens do excesso de telas e devolvê-los ao mundo real.
Uma pesquisa do Datafolha elaborada para o Instituto Alana,realizada em julho passado com 2.009 pessoas e publicada recentemente,mostra que a maioria dos brasileiros com filhos de até 17 anos acreditam que crianças de menos de 14 anos não deveriam ter celular ou tablet próprio (58%),acessar aplicativos de mensagens como o WhatsApp (58%) e jogar videogame (61%). E demonstram forte preocupação com as redes sociais: 76% acham que menores de 14 não deveriam acessar redes como Instagram,TikTok,Kwai e Discord,e não deveriam assistir vídeos no YouTube e streamings sem supervisão dos responsáveis.
Mas a realidade não segue a orientação dos pais. A pesquisa TIC Kids Online Brasil de 2023 mostra que mais de 2/3 das crianças de 9 e 10 anos usam YouTube,metade utilizam WhatsApp e TikTok,e 26% Instagram. Entre as crianças de 11 e 12 anos,90% usam YouTube,70% WhatsApp,55% TikTok e 52% Instagram. E a torrente de danos à saúde física,cognitiva,emocional e mental segue aumentando.
E os pais entendem por quê. Sabem que não pode ficar unicamente sobre seus ombros a carga de controlar o uso de aplicativos digitais por seus filhos,por dois motivos: é uma carga de trabalho insana,e porque as empresas investem em tecnologia aditiva,isto é,trabalham para viciar seus filhos. Na pesquisa,96% deles acreditam que crianças e adolescentes estão ficando viciados em redes sociais e 95% consideram muito difícil esses jovens se defenderem sozinhos de violência e de conteúdos inadequados.
Uma curiosidade: 58% dos pais afirmam saber como colocar senhas para proibir acesso a conteúdos impróprios e 44% sabem como limitar o tempo de uso e o acesso a conteúdos inadequados usando o controle parental. 38% dizem saber como controlar com quem o filho deve falar ou não na internet.
Mas será que saber é fazer? A proibição de perfis por crianças abaixo de 13 anos não é respeitada sequer pelas próprias empresas. Meta (Instagram e WhatsApp) e Tiktok poderiam exigir uma verificação etária mas seguem fingindo que o fazem. Como afirma Maria Mello,coordenadora do programa Criança e Consumo do Instituto Alana: "As ferramentas de controle parental ou o processo de denúncias são muito complicadas e implicam em consumo de dados das operadoras,o que desestimula o uso".
O fato é que a supervisão isoladamente ficará longe de resolver o problema. Precisamos de políticas públicas regulatórias,como a que está sendo discutida nesse momento no congresso americano,a KOSPA (Kids Online Safety and Privacy Act),seguindo a tendência de vários países de legislar para proteger as crianças dos enormes riscos da vida online.
Nas escolas,a tendência se repete. A pesquisa TIC Educação 2023 aponta que 28% das escolas do Brasil baniram totalmente o uso de celulares,enquanto 64% permitem o uso em determinados espaços e horários. Nas escolas de Fundamental I,a proibição total chega a 43%,contra 32% em 2020. O MEC prepara uma lei para o banimento a nível nacional. A política digital da escola se tornou critério de escolha das famílias.
Mais uma demonstração de que a política celular zero está dando bons resultados. Como escrevi semana passada aqui em meu blog,todos estão felizes: pais,professores e até estudantes. Após um compreensível período de abstinência,reclamações e atos de resistência,se habituam e então começam a gostar: voltam a brincar,se movimentar e conversar.
O expresso da infância online começa a dar marcha ré e se afastar do abismo. Repito o que dizia Victor Hugo: “nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”.
Que o mesmo aconteça com nossa consciência ambiental.
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