Presidente da Câmara dos Deputados,Arthur Lira e o Presidente Lula no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Presidente da Câmara dos Deputados,Arthur Lira e o Presidente Lula no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
GERADO EM: 17/10/2024 - 03:30
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Candidatos à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara aumentaram os esforços para atrair o Palácio do Planalto e a bancada do PT,a segunda mais numerosa da Casa,mas esbarram na disposição dos governistas de ganhar tempo. Os parlamentares petistas se reuniram nesta semana e adiaram a decisão do apoio enquanto aguardam um consenso no Centrão em torno de um nome. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),por sua vez,tem emitido sinais em mais de uma direção,num movimento que líderes partidários veem como calculado para reduzir a influência de Lira na disputa.
Sucessão na Câmara 1: Lira diz a aliados não acreditar em bloco governista e aposta em isolamento de ElmarSucessão na Câmara 2: Líderes veem atuação de Lula para reduzir influência de Lira,e bancada do PT adia definição
Cortejado pelos líderes do União Brasil,Elmar Nascimento (BA); do Republicanos,Hugo Motta (PB); e do PSD,Antonio Brito,o PT optou por não tomar uma decisão por ora. A bancada tem 68 deputados,só perdendo para o PL,e é vista como decisiva na definição dos rumos da sucessão. A previsão é que haja encontros individuais com os três concorrentes.
Enquanto o líder do PT na Câmara,Odair Cunha (MG),e a presidente do partido,Gleisi Hoffmann,já fizeram gestos favoráveis a Motta nos bastidores,Lula ainda não agiu para retirar as candidaturas de Brito e Elmar,ainda que tenha se reunido com o deputado do Republicanos assim que a candidatura foi lançada. Em outra direção,o presidente posou para fotos com Elmar e Brito,como no último fim de semana,quando esteve com ambos em Belém.
Motta,que tem também a simpatia do líder do governo na Câmara,José Guimarães (PE),já recebeu uma alfinetada do chefe da bancada governista no Senado,Jaques Wagner (BA),que lembrou da relação do parlamentar com o senador Ciro Nogueira (PP-PI),ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro,e com Eduardo Cunha,o ex-presidente da Câmara e algoz de Dilma Rousseff no impeachment.
— Temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas,que é o Hugo Motta. Mas vamos aprofundar o debate e decidir no momento adequado,nem cedo nem tarde. Vai ser quando estiver maduro o suficiente — disse Odair Cunha na terça,após o encontro da bancada.
Adversários do candidato do Republicanos dizem que,se fosse de interesse de Lula impulsionar Motta,o governo já teria dado sinais mais claros de apoio a ele.
Observando uma porta ainda aberta,Elmar Nascimento vem fazendo uma guinada estratégica à esquerda. O parlamentar trocou os embates com o PT,seu adversário em muitas eleições na Bahia,por fotos com Lula,visitas ao Planalto e encontros com o Movimento dos Sem Terra (MST) e sindicalistas.
Os acenos,que já aconteciam em menor escala,se tornaram mais frequentes e explícitos a partir do mês passado,quando Lira desistiu de apoiá-lo e passou a tentar construir um consenso em torno de Motta. Desde então,Elmar aumentou a frequência no Planalto e mantém interlocução com o ministro Rui Costa (Casa Civil),com quem recompôs relações durante o governo após um histórico de atritos na Bahia e até mesmo no início da gestão,quando criticou a postura do auxiliar de Lula em relação às emendas.
A tentativa de aproximação com a esquerda extrapola o governo. Na segunda-feira,por exemplo,o parlamentar se reuniu com membros do MST e ontem foi a São Bernardo do Campo,no ABC paulista,para um encontro com metalúrgicos — a atuação no sindicato foi a origem da trajetória política de Lula.
Na semana passada,durante os festejos do Círio de Nazaré,em Belém,Elmar postou uma foto ao lado de Lula e Antonio Brito. Recentemente,o parlamentar chegou a “fazer o L”,durante ato de apoio à candidatura de Lurdinéia do Zé Branco,petista que concorreu à prefeitura de Andorinha,no norte da Bahia.
Além dos acenos aos governistas,a posição de Elmar como líder partidário permitiu gestos mais concretos. No mês passado,o partido dele,o União Brasil,moveu membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara,com o objetivo de obstruir a proposta que anistia envolvidos no 8 de janeiro — o texto desagrada ao governo.
Sob reserva,petistas ainda veem a movimentação de Elmar com cautela e lembram que o deputado tem uma trajetória de apoio a pautas que vão na contramão dos desejos da esquerda,como o endosso ao marco temporal para a demarcação das terras indígenas,ao projeto que proíbe invasores de propriedades de receberem benefícios sociais do governo e à derrubada do decreto de Lula que atualizava o marco legal do saneamento básico. O posicionamento ocorreu mesmo sendo o União Brasil um partido da base do governo,com membros na Esplanada.
Apesar dos esforços de Elmar,Lira tem dito a aliados que a frente de partidos para a composição de uma “candidatura de convergência” já está montada a favor de Motta. O presidente da Câmara tem demonstrado confiança,inclusive,que PL e PT estarão juntos nesse bloco. O ex-presidente Jair Bolsonaro indicou recentemente a aliados a intenção de caminhar junto com o candidato que Lira escolher e defende que o PL,além da primeira-vice-presidência,tenha espaço em comissões e negocie o andamento do projeto da anistia.
Diante desse cenário,Lira afirmou a interlocutores não acreditar que Elmar e Brito mantenham as candidaturas à cadeira.
Já o grupo mais próximo aos líderes do União Brasil e do PSD se apoia na leitura de que Lira perderá força na condução do processo de sucessão. Essa ala da Câmara diz que o tempo joga a favor de Lula e que,com o passar das semanas,o poder do presidente da Câmara tende a diminuir.
— A melhor posição que o Arthur (Lira) pode ter hoje é dizer que os três candidatos postos são todos da base dele — disse o líder da maioria na Câmara,André Figueiredo (PDT-CE),que apoia Elmar Nascimento.
Aliados do presidente da Câmara rejeitam essa avaliação de que o governo assumiu o protagonismo do processo e dizem que isso é algo trabalhado pelo grupo adversário de Motta para tentar enfraquecer a candidatura do Republicanos.
Ainda assim,dentro daqueles que apoiam Motta,há uma esperança de que,mesmo com a atual divisão,não haja disputa,porque o governo vai agir nos momentos finais para unir os parlamentares em uma candidatura. Mesmo uma parte dos aliados de Brito e Elmar diz que,se Motta conseguir o apoio do Planalto no futuro,inevitavelmente as candidaturas adversárias perderiam força.
— Na hora que for anunciado o acordo com PL e PT vai fortalecer a candidatura do Hugo,que é a candidatura do Lira — diz o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI),aliado de Lira e Ciro Nogueira.
Reunião com líder do PT
No início de setembro,o líder do PT na Câmara,Odair Cunha (à direita),recebeu Hugo Motta e Arthur Lira (ao centro),acompanhados dos parlamentares fluminenses Doutor Luizinho e Altineu Côrtes (à esquerda) e de Isnaldo Bulhões (AL). Durante o encontro,o petista confirmou o provável apoio à candidatura do Republicanos à presidência da Casa.
Com direito a ‘L’ em comício
Durante a campanha eleitoral,Elmar Nascimento fez o “L” em comício de uma candidata petista em Andorinha,no interior da Bahia. O deputado,que disparou inúmeras críticas ao presidente Lula durante as eleições de 2022,hoje tenta se aproximar do chefe do Planalto e busca apoio dos governistas para conquistar a cadeira de Lira.
Almoço e agenda com Lula
Há um mês,Antônio Brito se encontrou com Lula durante um almoço no Palácio do Itamaraty. Antes,os dois participaram de um evento da agenda oficial da Presidência. Junto com o senador Omar Aziz,Lula e Brito avaliaram a sucessão de Lira. Lula e Brito,que já haviam se encontrado no Palácio da Alvorada,em agosto,posaram para fotos no último fim de semana em Belém.
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