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Acampados próximo a Gaza, colonos judeus reivindicam ocupação do enclave: 'Espero que palestinos desapareçam'

Ativistas israelenses de extrema direita participam de ato perto da fronteira com Gaza que pede o estabelecimento de um novo assentamento judaico no enclave — Foto: MENAHEM KAHANA/AFP

Ativistas israelenses de extrema direita participam de ato perto da fronteira com Gaza que pede o estabelecimento de um novo assentamento judaico no enclave — Foto: MENAHEM KAHANA/AFP

RESUMO

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GERADO EM: 23/10/2024 - 04:30

Colonos judeus em Gaza: tensões e extremismo crescente

Em meio a tensões,colonos judeus acampam perto de Gaza reivindicando a ocupação do enclave e desejando a saída dos palestinos. Com apoio do governo israelense,planejam estabelecer assentamentos na região. Líderes extremistas promovem discurso supremacista e limpeza étnica,desafiando leis internacionais. O clima hostil é marcado por ameaças e apoio militar,enquanto a população local sofre com a violência e o deslocamento. A presença de ex-colonos e ultranacionalistas reforça a busca pela ocupação,ignorando o histórico de conflitos na região. O extremismo e a intolerância exacerbam a situação,gerando preocupações de conflito e violações dos direitos humanos.

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A lei internacional não significa nada diante das leis de Deus para mais ou menos 500 judeus de todas as idades acampados às portas de Gaza,que eles consideram parte da terra prometida. Reivindicam o direito de ocupar a Faixa de Gaza e até mesmo de expulsar seus habitantes com um discurso supremacista. Contam com o apoio do governo israelense. Os ministros de extrema direita da Segurança Nacional e das Finanças,Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich,respectivamente,que também são colonos,visitaram o acampamento na tarde de segunda-feira.

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Os participantes do ato a favor da ocupação judaica da Faixa de Gaza estão sendo protegidos pelo exército e pela polícia.

— Em menos de um ano,vocês verão os judeus chegarem a Gaza e os árabes desaparecerem — garante,entre a ameaça e o triunfalismo,Daniella Weiss,de 79 anos,a mais conhecida líder do movimento de colonos israelenses sob uma das tendas erguidas a cerca de 3,5 km da cerca da fronteira com Gaza.

A mesma cerca que centenas de moradores de Gaza,liderados pelo Hamas,invadiram em 7 de outubro de 2023 para realizar o pior massacre da História de Israel,com 1.200 mortos,de acordo com os números oficiais. Naquele dia,os moradores de Gaza perderam o direito de permanecer em Gaza,segundo Weiss,que foi sancionada pelo Canadá em junho passado por "facilitar,apoiar ou financiar" a violência de radicais judeus contra civis palestinos na Cisjordânia.

Ativistas israelenses de extrema direita participam de ato perto da fronteira com Gazam que pede o estabelecimento de um novo assentamento judaico no enclave — Foto: MENAHEM KAHANA/AFP

O discurso de Weiss,amplamente conhecido e divulgado há décadas,alimenta as expectativas dos presentes. Alguns pertencem às 700 famílias que se inscreveram na lista para se estabelecer no enclave palestino. Nos últimos meses,foram planejados até mesmo conjuntos habitacionais.

Do acampamento,enquanto a artilharia israelense pode ser ouvida bombardeando a cada poucos minutos,é possível ver os edifícios da Faixa de Gaza,que têm sido alvo de bombardeios há mais de um ano. O Exército israelense está atualmente envolvido em uma forte ofensiva,especialmente no norte de Gaza. Pelo menos 32 pessoas foram mortas na segunda-feira nesses bombardeios Gaza,incluindo a uma escola da ONU onde centenas de cidadãos deslocados estão abrigados.

— A terra de Israel pertence somente ao povo israelense — diz Osher Shekalim,membro do parlamento do Likud,o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

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Apesar das imagens e dos dados divulgados pela ONU,ele considera que o desastre humanitário causado em Gaza pelos ataques das tropas de ocupação israelenses é uma "mentira".

— Espero que os palestinos desapareçam — acrescenta.

Limpeza étnica

Daniella Weiss chegou a organizar passeios de barco até a costa da Faixa de Gaza para que seus seguidores observassem a devastação da guerra.

— Rezo para que em breve eu possa desfrutar do prazer da costa de Gaza — disse,falando sem rodeios de uma limpeza étnica da Faixa de Gaza.

Por toda parte,crianças pequenas participam de oficinas de artesanato ou com animais de estimação,enquanto comem pipoca,cachorro-quente e algodão-doce oferecidos em diferentes barracas.

Alguns participantes da iniciativa,promovida por grupos de extrema direita e ultranacionalistas,são ex-colonos de Gaza,onde havia assentamentos judaicos até 2005,quando o então premier Ariel Sharon ordenou a retirada dos civis e militares israelenses. Desde então,houve várias guerras na região,mas nenhuma como a atual,com mais de 42.500 palestinos mortos.

Ativistas israelenses de extrema direitaparticipam de uma reunião perto da fronteira com Gaza que pede o estabelecimento de um novo assentamento judaico no enclave — Foto: MENAHEM KAHANA/AFP

Agora,alguns ultranacionalistas querem voltar ao enclave,como Avi Farhan,de 78 anos,que dança ao som de uma música segurando uma bandeira israelense e uma foto sua em frente à sua antiga casa nos assentamentos de Gush Kativ. A pista de dança improvisada é acompanhada logo em seguida pelo ministro Ben Gvir.

Para além de Gaza

Quem também viveu em Gaza entre 2003 e 2005 foi Eliyahu Binyamin,de 38 anos,pai de cinco filhos e com mais um a caminho,que está ansioso para voltar e se estabelecer lá com a família. Sair da Faixa de Gaza foi "um crime",descreveu ele,e "nunca deveria ter acontecido",porque "a partir daí,os problemas surgiram,especialmente em 7 de outubro",disse.

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Como muitos dos presentes,Binyamin carrega uma pistola em seu cinto. É por isso que,além de retomar os assentamentos,"é preciso mandá-los [os palestinos de Gaza] embora,porque é isso que eles realmente querem. Dê-lhes dinheiro e deixe-os ir para outras partes do mundo",acrescentou. Sua visão de Israel,que também incluiria a Palestina e partes do Líbano,Síria e Egito,não permite direitos iguais para os árabes que permanecem sob o Estado judeu.

— Imagino que nos juntaremos à segunda onda de famílias — disse sem hesitar Shira Leff Kreitman,de 31 anos,mãe de três filhos,que chegou dos EUA. Ela até se instalaria em uma caravana em Gaza e diz que conhece bem o enclave,por meio de conhecidos que são militares,embora nunca tenha estado lá.

Malkiel Barhai,de 35 anos,colono de Eviatar,um assentamento controverso no norte da Cisjordânia que foi despejado várias vezes e abriga 16 famílias,foi ao acampamento para prestar apoio. Usando um chapéu de caubói,Barhai entende que as tropas não limparam completamente Gaza dos "terroristas",portanto,há algo pelo qual esperar. Ele acredita que,após a saída dos judeus em 2005,eles perderam a oportunidade de viver juntos e,desde 7 de outubro,tudo mudou e eles precisam partir. Para ele,os territórios palestinos de Gaza e da Cisjordânia são tão israelenses quanto a cidade de Tel Aviv. Ele defende até os assentamentos judaicos em áreas onde o exército está avançando no Líbano.

Lior Amihai,diretor da ONG israelense Peace Now,escreveu uma carta ao chefe das forças armadas para alertá-lo sobre o perigo que ele vê na iniciativa dos colonos de extrema direita e no apoio que eles recebem de ministros e parlamentares,enquanto cem reféns do Hamas ainda são mantidos em cativeiro no enclave.

Ativistas israelenses de extrema direita participam de ato perto da fronteira com Gaza que pede o estabelecimento de um novo assentamento judaico no enclave — Foto: MENAHEM KAHANA/AFP

Weiss se gaba de já ter criado "mais de 330 assentamentos na Judeia e Samaria [como Israel se refere à Cisjordânia] e nas Colinas de Golã",a área síria ocupada pelo Estado judeu. Essa é a experiência na qual eles baseiam seu desejo de "fazer o mesmo aqui em Gaza [...]. Os árabes perderam o direito de permanecer nesse lugar sagrado",insiste. E para isso,ela reconhece,têm apoio político. Nos últimos meses,Weiss diz que recebeu ligações de amigos para reservar lotes de terra na praia para eles.

Eliyahu Binyamin,como muitos dos presentes,faz referências religiosas constantes em seu discurso e está convencido de que "o povo de Israel não deve votar",pois Deus é o "único líder" que deve ser obedecido. Para ele,exercer o direito de voto é um procedimento obrigatório,mas ele desconfia dos políticos e,se houver alguma opção que possa favorecer,ele não hesita em defender a extrema direita de Ben Gvir e Smotrich.

Questionado sobre os efeitos dos ataques israelenses na Faixa de Gaza,ele até defende o aviso "misericordioso" do exército sobre o bombardeio. Israel forçou centenas de milhares de pessoas a se deslocarem de um lado para o outro de Gaza várias vezes em meio aos ataques. Vários de seus filhos o cercam durante a entrevista. No final da entrevista,já não há mais nenhum.

— Talvez eles já estejam dentro de Gaza — brincou.

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